domingo, 4 de julho de 2021

O luto e a luta: protesto em Natal reuniu ativistas e familiares de vítimas da covid pelo impeachment de Bolsonaro


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olsonaro matou minha esposa”, dizia um cartaz em cartolina cor de rosa, segurado pelo auxiliar administrativo Márcio Roberto, de 39 anos. Há cerca de 40 dias, Márcio perdeu sua esposa Cássia, de 38 anos, para a Covid-19. Cássia era jovem, gostava de tocar violão e de costurar, segundo Márcio.

“Se as vacinas tivessem chegado um pouco antes, ela ainda estaria aqui. A culpa disso é sim do governo Bolsonaro, agora a gente sabe o motivo de tanta negligência na pandemia, tudo por causa dos esquemas de corrupção”, disse Márcio, um dos manifestantes que caminhou pelas ruas da capital potiguar na mobilização deste sábado (03). 

Com os olhos marejados, Márcio conta que era casado há 21 anos com Cássia, uma das mais de 524 mil vítimas da covid-19 no Brasil. Só no Rio Grande do Norte, 6.818 pessoas morreram em decorrência da doença até ontem. 

Balbúrdia transmitiu a manifestação ao vivo e convidou uma série de especialistas para conversar sobre diversas áreas sob ataque de Bolsonaro.


“Pessoas que não deveriam ter morrido, morreram. E minha esposa é uma delas, estou aqui para honrar sua memória”.

Márcio Roberto, auxiliar administrativo

 

Mais de 10 mil nas ruas

Com concentração em frente ao campus do IFRN, em Natal, o ato reuniu estudantes, trabalhadores, movimentos sociais e sindicais que além de pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), reivindicaram mais vacinas e auxílio emergencial, relembraram as vítimas da pandemia e, sobretudo, as recentes revelações feitas pelos depoimentos na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid que associam o governo Bolsonaro a um suposto esquema de corrupção.

As acusações envolvendo a compra de vacinas, especialmente no caso da compra da vacina indiana Covaxin, em que o governo é acusado de pedir propina no valor de um dólar para cada vacina comprada. As negociações são alvo de apuração da CPI, do Ministério Público e também da Polícia Federal. 

Outras bandeiras, como o combate a privatização, a luta pela demarcação das terras indígenas, os direitos da população LGBTQIAP+ e a preservação do meio ambiente, também ganharam espaço nas manifestações. O ato percorreu a avenida Salgado Filho até as imediações da Igreja Universal. 

“Não tirem as máscaras”, “mantenham o distanciamento”, “procure a distribuição de PFF2”, orientavam lideranças do ato aos manifestantes, na tentativa de diminuir o contágio do vírus e garantir o mínimo de proteção nas ruas. Segundo a organização, cerca de 10 mil pessoas foram às ruas ontem em Natal. 

Chamada “3JForaBolsonaro”, a manifestação nacional estava prevista para o fim do mês, mas foi antecipada após as acusações. Este foi o primeiro ato após o super pedido de impeachment protocolado na Câmara dos Deputados nesta semana. 

Volta às aulas

A pauta da volta às aulas presenciais também esteve presente no protesto. O presidente do Adurn-Sindicato Osvaldo Brandão destacou que, sem a comunidade acadêmica vacina, falar em volta às aulas presenciais é preocupante:

– Temos duas questões muito preocupantes: a análise da conjuntura nacional, com uma crise pandêmica sem precedentes, a crise econômica e social e uma sobrecarga no SUS, praticamente em colapso. E a perspectiva do estrangulamento que a emenda constitucional estabelece ano a ano. E esse ano ainda não temos uma lei orçamentária suficiente para uma volta segura. A conjuntura nacional que rebate o dia-a-dia das universidades. Vejo com muita preocupação falar numa volta presencial sem a vacinação da comunidade acadêmica. Precisamos lutar pela vacinação dos trabalhadores e também dos estudantes, por isso o Sindicato está hoje nas ruas fazendo essa luta conjunta com os estudantes“, afirmou.


A “Campanha Fora Bolsonaro” é uma iniciativa da Frente Povo Sem Medo, da Frente Brasil Popular, de todos os partidos de esquerda, das centrais sindicais, do movimento negro, de entidades de estudantes, movimentos sem-teto, ONGs e outros movimentos populares.

“Quanto vale a vida do Haroldo?”

O professor de artes marciais Haroldo Martins, de 41 anos, esteve na manifestação apenas em foto, erguida em um cartaz pelas mãos de sua tia, Ângela Soares, de 62 anos. Haroldo está há três meses internado com complicações da Covid-19 e hoje, se encontra em estado de coma vigil, estado de coma em que o paciente reage a poucos estímulos e não apresenta sinais de consciência. 

Ângela questionava em seu cartaz “quanto vale a vida de Haroldo?”. A resposta ela mesma deu: uma cédula de um dólar.

“Meu sobrinho é vítima da desonestidade e da corrupção desse governo maldito, que acaba com a vida das pessoas. Se esse presidente tivesse vacinado o povo, o meu sobrinho não estaria em cima de uma cama de hospital há três meses”, dizia emocionada e com lágrimas correndo pelo rosto.

“Eu estou aqui pela luta e em solidariedade as famílias que perderam seus entes queridos, muitos que já poderiam estar vacinados, como meu sobrinho”, contou. 

Dois filhos e esposa seguem aflitos pelo estado de saúde do professor, que tem idade próxima da faixa etária de vacinação vigente em Natal, onde pessoas a partir dos 42 anos de idade sem comorbidades podem ser imunizadas. 


Má gestão

Durante a manifestação, as vereadoras de Natal Brisa Bracchi e Divaneide Basílio, do PT, denunciaram a compra de respiradores usados pela Prefeitura de Natal para o Hospital de Campanha da cidade, principal unidade de tratamento para pacientes com Covid-19 do município. As duas vereadoras do PT, Robério Paulino (PSOL), Júlia Arruda (PCdoB) e Ana Paula (PL) pediram a abertura de uma Comissão Especial de Inquérito na Câmara Municipal.  O requerimento para a abertura da CEI tem como base a operação Rebotalho, deflagrada em conjunto, quinta (1º), pela Controladoria Geral da União (CGU), Polícia Federal e Ministério Público Federal, para apurar possíveis irregularidades da gestão do prefeito Álvaro Dias na compra de respiradores. 

Nós pedimos a abertura de uma Comissão Especial de Inquérito para apurar não só o caso dos respiradores. A gente está falando de dinheiro público que foi gasto em kits covid, sem informações de quanto foi gasto, teste de covid comprado sem licitação, se não há transparência, é um indício de que existe fraude e nós não vamos deixar passar nenhum mal uso do recurso público. Hoje é dia de Fora Bolsonaro, mas também da derrubada do Bolsonarismo em Natal através do governo Álvaro Dias”, relatou a vereadora Brisa Bracchi. 


Fonte: Saiba Mais

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