quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Sindicato reage a fechamento de agências e demissões do Banco do Brasil no RN


O Banco do Brasil (BB) anunciou a abertura de dois programas de demissão voluntária – com o objetivo de desligar até 5 mil funcionários – e o fechamento de 361 unidades (112 agências, 7 escritórios e 242 postos de atendimento) ainda no primeiro semestre deste ano. A decisão não envolveu os bancários, que foram comunicados junto com o mercado e a população na segunda-feira (12).

Sindicatos de todo o país organizam mobilizações e ações judiciais contra medidas que consideram ilegais, como transferências de funcionários pra fora das praças onde trabalham e extinção do cargo de caixa.

Outras 243 agências serão convertidas em postos de atendimento e oito postos de atendimento serão transformados em agências. Outras 145 unidades de negócios serão transformadas em lojas Banco do Brasil, sem guichês de caixas. O banco informou também a criação de 28 unidades de negócios, sendo 24 especializadas em agronegócio.

No Rio Grande do Norte, pelo menos três agências terão as atividades encerradas em definitivo: as unidades da avenida Amintas Barros, em Natal; da Cohabinal, em Parnamrim; e Santa Luzia, em Mossoró. Outras três foram escolhidas para serem transformadas em postos de atendimento: Guamaré, Alto do Rodrigues e Jardim do Seridó.

Também deve ser fechado o posto de atendimento de Tangará e outro em Natal, localizado no TRT, que há quatro anos era também uma agência completa. Há uma paralisação marcada para a quinta-feira (14) acordada entre os sindicatos do RN, do Maranhão e de Bauru, em São Paulo.

A instituição não divulga ainda os números de demissões em cada estado, mas o Sindicato dos Bancários do RN avalia que as mudanças trarão grandes perdas para a classe trabalhadora, incluindo redução de honorários.
“Haverá redução de salários porque boa parte dos que têm função gratificada perderá. Algumas funções também serão extintas, como gerente geral, gerentes de relacionamento e haverá redução do número de escriturários, que já não têm comissão”, conta o diretor do Sindicato dos Bancários no RN e funcionário do BB, Juvêncio Hemérito.

O dirigente sindical Eduardo Xavier, completa lembrando que unidades bancárias sem caixas e sem tesouraria conseguiram nacionalmente a dispensa de portas de segurança e de profissionais de vigilância, tornando o ambiente de trabalho mais inseguro e aprofundando a perda de empregos.

“Será grande a quantidade de vigilantes e copeiras que ficarão sem emprego. Os bancos empregam muito, mesmo com esse processo. São 500 mil bancários no país e um milhão de empregos ligados, reunindo pessoas terceirizadas”, avalia Xavier.

Juvêncio acrescenta ainda a extinção da função de caixa, deixando cerca de 4.200 pessoas sem a gratificação do cargo. “Temos 10 mil no Brasil, e em torno de 180 no RN. Boa parte já trabalha como “substituto”. Agora todos os caixas vão perder a gratificação mensal. Todos serão caixas substitutos sem a gratificação permanente”, conta o sindicalista, explicando que a instituição tenta justificar que as agências já não precisam de caixas.

Digitalização

De acordo com o Banco, desde 2016, a quantidade de transações em guichês de caixa reduziu 42%, enquanto o uso do mobile quase dobrou no mesmo período e já responde por 86% das transações, junto com o internet banking.

A tendência se acentuou durante a pandemia de covid-19. Desde abril de 2020, o App do BB ganhou mais 4,7 milhões de usuários, totalizando 19,4 milhões, com uma média diária de crescimento 273% maior do que o período anterior à crise sanitária. O atendimento pelo WhatsApp também registrou crescimento expressivo chegando a quase 600 mil atendimentos por dia.

Apesar do crescimento do meio digital, Juvêncio lembra que o que se nota nas agências são filas enormes de clientes à espera de atendimento por causa do efetivo reduzido. Isso demonstra que a população precisa do atendimento presencial, conclui Hemérito: “Parte da população brasileira ainda não tem acesso ao aplicativo. Uns por dificuldade com a tecnologia, outros porque não têm acesso ao bem material [smartphone e/ou computador], ou até mesmo pagamento da internet”.

Privatização

A instituição diz que as ações têm “o objetivo de reforçar a competividade, buscando a perenidade dos negócios, a eficiência operacional e o fortalecimento do protagonismo histórico da Instituição frente ao segmento financeiro”.

O Sindicato aponta que a real motivação é o esvaziamento da empresa pública para viabilizar a privatização. “O objetivo do governo Bolsonaro é esvaziar as estatais. Esvaziando a função pública do BB, fechando agências, enfraquecendo atuação do mercado, o objetivo principal é a privatização. Não é à toa que estão reduzindo custos, enxugando ao máximo para depois ofertar no mercado”, explica Juvêncio.

A contenção gerada com a reestruturação recém-anunciada nada tem a ver com a saúde financeira da instituição. No acumulado de 2020, o Banco do Brasil reportou um lucro de R$ 9,3 bilhões.

A economia líquida anual estimada com despesas administrativas gerada por estes movimentos, exceto o impacto dos planos de desligamento incentivado voluntário, é de R$ 353 milhões em 2021 e R$ 2,7 bilhão até 2025.

“Os bancos são, na verdade, parasitas. Utilizam dinheiro de terceiros pra gerar exploração e lucros”, destaca diretor sindical.

A instituição informou que o número final de adesões aos planos de desligamento, assim como o respectivo impacto financeiro, “serão informados ao mercado” após o encerramento dos períodos de adesão, que ocorrerá até 5 de fevereiro.

“Na pandemia os bancos foram basicamente os únicos que não tiveram prejuízo. Quanto mais crise, mais eles lucram. Os bancos são, na verdade, parasitas. Utilizam dinheiro de terceiros pra gerar exploração e lucros”, define o representante da classe trabalhadora.

O encolhimento do Banco do Brasil não começa agora. Em agosto de 2019, 2.367 funcionários aderiram a um plano de desligamento incentivado no Banco do Brasil. Em setembro de 2020, de acordo com último balanço de resultados, o BB tinha 92.106 funcionários, queda de 1,9% em relação a setembro de 2019 (93.872).

Apesar da palavra “voluntário” estar impressa no plano de demissões, há pressão para que os trabalhadores optem por deixar a empresa, além da pressão constante dentro da rotina laboral. “Um ou outro até quer sair porque há uma pressão muito grande dentro das estatais e no serviço público em geral por atingimento de metas e tem provocado adoecimento mental enorme nos bancários”, destaca Juvêncio.

Situação dos clientes

Os clientes com agências encerradas serão comunicados das mudanças, que acontecem a partir do dia 22 de fevereiro. Nesse caso, a mudança de agência é automática. Os clientes não precisam fazer qualquer procedimento adicional e podem manter seus cartões e senhas para transações na nova agência, mesmo que haja alteração no número da conta.

O Banco construiu um hotsite (https://www.bb.com.br/pbb/pagina-inicial/atendimento/novo-atendimento#/) para esclarecer as medidas aos clientes. Em caso de dúvidas, os clientes poderão ser atendidos tanto via WhatsApp – (61) 4001-0001, assim como poderão entrar em contato com a Central de Atendimento 0800 729 5291, de segunda a sexta-feira, das 8 às 20 horas.

Governo do RN

A governadora Fátima Bezerra (PT) externou sua preocupação com o fechamento de agências e a possibilidade de demissão de funcionários do Banco do Brasil no Rio Grande do Norte. Ao receber a visita da nova superintendente da instituição no Estado, Priscila Requejo Simões de Araújo, a governadora destacou a parceria do estado com o banco que opera a folha de pagamento dos servidores nos 167 municípios.

“Na condição de Governo, temos a obrigação de acompanhar essa situação, pois são serviços muito importantes para os servidores públicos, a população em geral e a economia do nosso estado”, afirmou a governadora.
De acordo com a direção do BB, os servidores estaduais não serão prejudicados por que o banco investirá em correspondentes bancários, com previsão de três unidades em cada município.

“Os bancos estatais são patrimônios do povo brasileiro”, diz governadora.

Além da folha de pessoal, a gestão estadual opera com o banco na cobrança da dívida ativa por meio de um acordo inédito para a gestão estadual. Desde 2019, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) enviou dois lotes de cobranças da dívida ativa e recuperou R$ 7,6 milhões de créditos “podres”, considerados de difícil recuperação em condições normais.

A superintendente do banco no RN explicou que aqueles que trabalham nas agências a serem fechadas que não aderirem ao plano de demissões serão realocados para as 15 novas carteiras que a instituição passará a operar.

A governadora solicitou ainda a abertura para parceria em investimentos nos setores cultural e rural. No ano passado o BB investiu cerca de R$ 1,5 bilhão em financiamentos a pessoas física e jurídica no RN. “Considero de grande importância para o estado o fortalecimento do setor financeiro. Os bancos estatais são patrimônios do povo brasileiro. Apoiar e fomentar o emprego, a geração de renda e oportunidades de trabalho são iniciativas fundamentais para dar cidadania ao nosso povo”, finalizou Fátima Bezerra.


Fonte: Saiba Mais

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