quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Jovem nascido em povoado no semiárido do RN se forma no ITA

Talles Dantas, de 24 anos, recebeu o diploma de engenharia aeronáutica.
Ele vai trabalhar em consultoria em SP, mas planejar atuar no Nordeste.

Foi no povoado de Cobra com 500 habitantes, no semiárido do Rio Grande do Norte, que Talles Henrique de Medeiros Dantas, 24 anos, nasceu e viveu os primeiros anos de vida. De lá, se mudou para Parelhas, cidade com cerca de 20 mil habitantes, a 15 quilômetros do povoado.
Movido pela vontade de aprender, deixou o Rio Grande do Norte muito novo em busca de um sonho conquistado recentemente: o diploma de engenharia civil e aeronáutica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O ITA é um instituto de engenharia de ponta localizado em São José dos Campos reconhecido internacionalmente. Com quatro dias de provas, possui um dos vestibulares mais difíceis do Brasil.
“Sempre fui muito inquieto, até fisicamente. Mas a vontade de aprender sempre me levou mais longe e a conseguir coisas”, diz. Talles sempre volta ao povoado, onde moram seus avós e primos. Ele brinca que a família não tem ideia da sua formação. “Devem achar que eu sou piloto.”
Para realizar o sonho, Talles foi morar sozinho aos 16 anos em Fortaleza, frustrando a expectativa da mãe que queria que ele estudasse medicina e não saísse do estado. “Eu era bom aluno, sempre gostei de aprender, mas não tinha ‘sangue nos olhos’. As pessoas esperavam que eu fizesse medicina porque era comum. Achavam que eu seria um bom médico, mas no segundo ano do ensino médio me apaixonei por exatas. Um professor falou sobre o ITA e meus olhos brilharam”, afirma.
A educação é muito valorizada pela família de Talles. Ele lembra que o pai, sempre muito estudioso, andava 10 quilômetros por dia de bicicleta para chegar à escola. Concluiu o curso superior em matemática e foi aprovado em um concurso público para auditor fiscal no Rio Grande do Norte. Hoje sua mãe é formada em direito, atua como advogada na área previdenciária e em Parelhas. Sua irmã mais nova também é formada em direito e agora fará concurso para ser juíza.
Talles na infância, quando morava no Rio Grande do Norte (Foto: Arquivo pessoal)
Em busca da vaga no ITA

Assim que saiu do ensino médio, Talles prestou vestibular e foi aprovado na Federal do Rio Grande do Norte e no Instituto Militar de Engenharia (IME) no Rio de Janeiro. Chegou a se matricular no IME, mas logo desistiu da vaga e optou por fazer cursinho por mais um ano para tentar entrar no ITA. Dessa vez, em São José dos Campos.

Talles na infância, quando morava no Rio Grande do Norte (Foto: Arquivo pessoal)Durante a preparação resolveu todas as provas do ITA desde 1988 em três meses. Quando terminou o ano, fez novamente o vestibular do IME e em seguida já soube que não tinha sido aprovado. Isso mesmo antes de fazer a prova do ITA. “Fiquei desanimado. Pensei: dei um passo para trás, mas, ao mesmo tempo, tinha confiança de que ia passar. Também usei como motivação e pensei só tenho uma alternativa agora, a de passar no ITA.”
Talles fez a prova e conferiu o gabarito: das 80 questões objetivas acertou 72. O vestibular tem ainda 30 perguntas dissertativas e uma redação.
O ITA ligava para os candidatos, em ordem alfabética, para avisar sobre a aprovação. Sem conseguir conter a ansiedade sobre o resultado, assim que um amigo chamado Tulio recebeu o telefonema com a boa notícia, não aguentou e ligou para a comissão dos vestibulares. Estava na lista de aprovados. “Foi assim que soube que fui aprovado. Fui o único que fiz o caminho inverso. Gritei tanto que até o porteiro do meu prédio ouviu que eu havia passado. Certamente foi um dos dias mais felizes da minha vida.”
A vida na universidade

Aceito no ITA, Talles foi morar dentro do alojamento em São José dos Campos. Logo que chegou já se envolveu na administração do cursinho pré-vestibular Casd, organizado por estudantes do ITA, que atende alunos de baixa renda em busca de uma vaga na universidade.

“No primeiro ano trabalhei no RH, no segundo ano fui para o setor administrativo e no terceiro ano fui diretor executivo do cursinho. Cheguei a organizar um dos vestibulinhos com 3.700 inscritos para 520 vagas.”
Foram três anos envolvido no cursinho, paralelamente às aulas na universidade, até que Talles “se voltou para o que queria fazer na vida, para tentar se encontrar”. Foi fazer um estágio nas férias em uma empresa que produzia casas de plástico, em Fortaleza. “Foi um grande aprendizado na área de engenharia.”
Ainda antes de se formar, o estudante foi trabalhar em uma empresa na área de consultoria estratégica. E depois da formatura teve experiência no mundo das finanças. “Queria ter várias experiências para ver qual me identificava mais. Acho a área de consultoria muito importante porque você faz vários projetos ao longo de um ano. Você define as estratégias da empresa, vê as ameaças e oportunidades.”
A partir de fevereiro, Talles vai trabalhar em uma consultoria, na Vila Olímpia, na Zona Sul de São Paulo. Agora está em um mochilão com amigos pela Ásia. No futuro, planeja um mestrado em negócios na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e ações voltadas para o Nordeste.
FONTE: G1

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