terça-feira, 15 de maio de 2012
Projetos sociais criam "manchas verdes" no Nordeste
A paisagem quase desértica do semiárido nordestino tem algumas "manchas verdes". Esse é o termo adotado para caracterizar locais atendidos por projetos sociais em que as famílias ainda têm água ao menos para beber e cozinhar.
Há cerca de 750 organizações que desenvolvem projetos de gestão e de políticas de convivência com o semiárido, segundo a Asa Brasil (Articulação no Semi-Árido Brasileiro). Muitas trabalham com tecnologias de armazenamento de água, como cisternas e barragens subterrâneas.
Ainda que esses sistemas estejam se esvaziando, eles podem ser abastecidos por carros-pipa, destaca o economista José Dias, do Cepfs (Centro de Educação Popular e Formação Social), na Paraíba, finalista do Prêmio Empreendedor Social em 2011. Entre as ações da organização estão os programas Tecnologias de Manejo de Recursos Hídricos e Manejo de Recursos Naturais para Agricultura Familiar.
"Quem tem cisterna tem poder significativo de enfrentar uma seca." Mas esse é apenas o primeiro passo, afirma ele. Para enfrentar uma grande estiagem como a deste ano, é preciso ter mais de uma cisterna. Uma delas seria reservada para consumo humano; outra, para agricultura e pecuária.
Outras ações também têm sido desenvolvidas para reduzir os impactos da seca, conta o também economista Wagner Gomes, da Adel (Agência de Desenvolvimento Econômico Local), no Ceará, vencedor do Prêmio Empreendedor Social de Futuro em 2010.
A equipe da organização realizou diagnóstico com grupos de produtores assistidos e detectou perda de 53% na produção de milho e feijão e de 85% na produção de mel.
A solução tem sido intensificar o acompanhamento técnico aos agricultores --para evitar perda de animais-- e a produção de silagem (alimento que pode substituir o pasto em época de seca) e feno nas comunidades cearenses de Pentecoste, Apuiarés, General Sampaio,Tejuçuoca e Umirim.
"Também estamos nos reunindo com governos e secretários do municípios para agilizar o processo de cadastro e acesso das famílias em programas como o Garantia Safra e a Bolsa-Estiagem", conta Gomes.
"As experiências que a sociedade civil têm desenvolvido precisam ser ampliadas", opina Dias.
PERSPECTIVA
"Se não fossem as entidades sociais, não sei o que seria de nós nordestinos", complementa Abelmanto Carneiro de Oliveira, 39. Agricultor no município de Riachão do Jacuípe (BA), ele teve orientação de organizações sociais para implementar tecnologias de captação e armazenamento de água. Seu terreno de 10 hectares conta com quatro sistemas: cisterna calçadão, cisterna de consumo, barragem subterrânea e barreiro-trincheira.
Somadas, os sistemas comportam 1,8 milhão de litros de água. Hoje, diz ele, há o suficiente para consumo humano por oito meses e para consumo animal por dois a três meses. Depois disso, caminhões-pipa podem reabastecer as cisternas.
Cinco famílias vizinhas recorrem a Oliveira para conseguir água e ele prevê que outras o procurem nos próximos meses. "Se fosse antigamente [quando os sistemas não haviam sido construídos], acho que já tinha gente morrendo de sede."
AUXÍLIO
O governo federal anunciou o investimento de R$ 2,7 bilhões em ações para ampliar o fornecimento de água e o apoio ao agricultor. No programa Água para Todos, serão beneficiadas famílias de dez Estados nordestinos (AL, BA, CE, MA, MG, PB, PE, PI, RN e SE), com a instalação de 32 mil cisternas, 2.400 sistemas simplificados de abastecimento, 1.199 barreiros e 2.400 poços.
O Ministério da Integração Nacional disponibilizará ainda R$ 1 bilhão para produtores rurais, comerciantes e setores da indústria prejudicados pela estiagem.
FONTE: ASA