quarta-feira, 23 de maio de 2012

Egito realiza primeira eleição livre para escolher presidente



BBC Brasil
Cinquenta milhões de pessoas têm direito a voto, e as filas estão se formando em seções eleitorais. A votação dura dois dias e, caso nenhum candidato consiga a maioria dos votos, haverá segundo turno, em junho.
A junta militar que assumiu o poder presidencial em fevereiro de 2011 prometeu uma votação justa e um regime civil.

Até 2005, as eleições no Egito antes eram indiretas, com o presidente escolhido pelo Parlamento e ratificado por consulta popular, tida como claramente fraudulenta pela oposição e por observadores internacionais. A partir daquele ano, houve eleição direta, mas a Irmandade Muçulmana, principal partido de oposição, era considerada ilegal. O pleito de 2012 seria o primeiro live, não manipulado, da história do país.

A eleição opõe islamitas a secularistas, e revolucionários a ex-ministros de Mubarak.

Os principais candidatos são os seguintes:

Ahmed Shafiq, antigo comandante da força aérea e primeiro-ministro durante os protestos de fevereiro de 2011
Amr Moussa, que foi ministro das Relações Exteriores e chefe da Liga Árabe
Mohammed Mursi, que lidera a Irmandade Muçulmana e o Partido da Justiça e Liberdade
Abdul Moneim Aboul Fotouh, candidato independente islâmico


Até que uma nova Constituição seja aprovada, não está claro que poderes o presidente terá, o que provoca temores de atrito com os militares.
'Escolha livre'

A votação começou pontualmente às 8h, hora local (06:00 GMT), com filas crescentes em muitos dos locais de votação no Cairo.

"É um grande dia", disse uma mulher à BBC. "Este é um grande momento para os egípcios mudarem (o país)."

Outra mulher, ao ser questionada sobre por quanto tempo estava esperando para votar, respondeu com uma risada: "30 anos".

Mohamed Mursi era originalmente o candidato reserva da Irmandade Muçulmana, mas acabou virando o titular após a primeira opção, Khairat al-Shater, ser desclassificado pela Comissão Presidencial Superior Eleitoral (HPEC) por ser réu de um processo ainda em curso.
A Irmandade Muçulmana, no entanto, comparou Mursi, engenheiro educado nos EUA e parlamentar, a um jogador de futebol reserva subestimado.

"Em qualquer jogo há um reserva que entra faltando dez minutos para o fim da partida, faz o gol e garante a vitória. Mursi é este jogador", disse o clérigo Mohamed Abdel Maqsoud a uma multidão de apoiadores da Irmandade no domingo.

Um segundo turno de votação está agendado para 16 e 17 de junho, se não houver vencedor.

O editor da BBC para Oriente Médio Jeremy Bowen diz que há também um conflito potencial com os militares, que parecem determinados a não abrir mão de seu poder no país.

O eleitorado não sabe que poderes o novo presidente terá para fazer seu trabalho, uma vez que tais responsabilidades não estão claras sem uma nova Constituição, destaca o correspondente.

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'Primeiro passo'

A eleição está sendo saudada como um marco para os egípcios, que têm a oportunidade de escolher o seu líder pela primeira vez na história do país, de 5.000 anos.

O Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF), preocupado com a agitação pós-eleitoral, tem procurado tranquilizar os egípcios afirmando que a democracia veio para ficar.

"É importante que todos aceitem o resultado das urnas, que refletem a livre escolha do povo egípcio, tendo em conta que o processo democrático do Egito está dando seu primeiro passo e todos nós devemos contribuir para seu sucesso", disse o Conselho em um comunicado emitido na segunda-feira.
O primeiro-ministro, Kamal al-Ganzuri, disse na terça-feira esperar que as eleições corram tranquilamente.

Ele pediu que "os candidatos, as forças políticas, e os partidos estimulem seus apoiadores a respeitar a vontade dos outros e aceitar os resultados da eleição".

Os 15 meses seguidos à deposição de Mubarak foram turbulentos, com constantes protestos violentos e conflitos entre muçulmanos e a minoria cristã, que corresponde a 10% da população. Os cristãos temem que ascensão de conservadores islamistas aumente tensões religiosas.

A economia em deterioração também é um desafio para o novo presidente.

O investimento direto estrangeiro caiu de US$ 6,4 bilhões positivos em 2010 para US$ 500 milhões negativos no ano passado.

O turismo, importante gerador de receita para o país, também caiu em um terço.

O novo presidente também terá de reformar a polícia para lidar com a onda de crime que se seguiu à revolta popular.
Indecisos

Pelo menos um terço dos eleitores estavam indecisos sobre os candidatos.

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"Não consigo decidir. Quero alguém que possa trazer estabilidade e prosperidade", disse à agência de notícias Reuters Hussam Sobeih, 45 anos.

"Apoiei a revolução até Mubarak ser derrubado, mas depois a situação piorou e eu quero minha vida de volta."
A Primavera árabe começou na Tunísia ano passado, quando semanas de protestos forçaram o presidente Zine al-Abidine Ben Ali a deixa o poder, inspirando ativistas pró-democracia em todo o mundo árabe.

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, no poder há três décadas, renunciou em 11 de fevereiro de 2011, após 18 dias de protestos no Cairo e outras cidades.

Ele está sendo julgado por seu suposto papel nas mortes de manifestantes, em um processo que deve ser concluído dia 2 de junho.
Com Informações do Potiguar Notícias e BBC Brasil