O Banco Central (BC) cortou os juros básicos da economia (Selic) em 0,75 ponto percentual, para 9% ao ano, na reunião do colegiado realizada nesta quarta-feira. A decisão foi unânime e era esperada por praticamente todos os analistas do mercado financeiro e aplicadores.
“O Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação. O Comitê nota, ainda que, até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária”, afirmou o colegiado, em comunicado divulgado ao final da reunião.
Em março, após acelerar o ritmo de corte, o Copom avisou que era alta a probabilidade de a taxa Selic se deslocar para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nesses patamares se estabilizar: o que foi entendido pelo mercado que ficaria no nível estabelecido nesta quarta-feira pelo BC. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está acumulada em 5,24% nos últimos 12 meses. A previsão do BC é que o índice usado oficialmente pelo governo encerre o ano em 4,4%, portanto, abaixo da meta de 4,5%. Nas contas dos analistas, a taxa de juros real está abaixo de 4% ao ano.
Pelos dados recentes de inflação mais moderada que o esperado, o coordenador de Política Econômica do Conselho Federal de Economia, Júlio Miragaya, aposta que o Copom ultrapassará o próprio piso que criou. Ele acha que essa diretoria fará um novo mínimo histórico para os juros básicos na reunião de maio: 8,75% ao ano.
- Entre a expectativa do mercado e a necessidade da sociedade, o BC deve se tornar mais sensível ao apelo de ter uma taxa mais próxima ao que está sendo praticado no mundo – diz.
Ele considera que esse patamar não influenciará a atração de investimento para o país justamente por causa da inflação mais baixa que faz com que o juro real continue na mesma: sem alterar a rentabilidade. Para o economista, o que muda a intenção de investir no Brasil é a cotação da moeda. Miragaya também considera que ainda há espaço para a taxa de juros cair ainda mais sem provocar uma corrida de investidores que aplicavam em títulos públicos para a caderneta de poupança – que tem rendimento estabelecido por lei e que fica cada vez mais atraente com a queda da Selic.
É a opinião oposta de Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). Ele garante que a maioria dos fundos de investimento já perdem para a poupança e apenas os que têm investimentos mais longos, com redução de Imposto de Renda e taxas de administração diferenciadas, ainda são mais rentáveis.
- O BC obriga antecipar a discussão e mexer na poupança, mas o governo está fazendo de tudo para não ter de tocar nesse ponto num ano eleitoral.
Oliveira também diz acreditar que o Brasil continuará a atrair investimento seja pelas boas perspectivas da economia ou simplesmente pela falta de opção do aplicador internacional por causa da crise. Um dos sinais é a forte capitalização feita na segunda-feira pelo Tesouro Nacional de R$ 3 bilhões pagando os menores juros da história.
Para o economista, Sidnei Nehme, da NGO Corretora, mesmo com alguns sinais de pressão inflacionária, o BC pode cortar mais 0,25 ponto percentual ou até mesmo 0,5 ponto percentual na próxima reunião, mas não deve insinuar o que fará nem na ata que será divulgada daqui uma semana para não afetar expectativas.
- Os efeitos desta redução representam baixo impacto nas taxas exorbitantes de juros praticadas no sistema financeiro brasileiro, embora reduzam o custeio da divida publica indexada à Selic, por isso, o governo deverá continuar pressionando os bancos privados a reduzirem seus spreads e as taxas de juros finais.
FONTE: O GLOBO