O Banco do Brasil (BB) anunciou a abertura de dois programas de demissão voluntária – com o objetivo de desligar até 5 mil funcionários – e o fechamento de 361 unidades (112 agências, 7 escritórios e 242 postos de atendimento) ainda no primeiro semestre deste ano. A decisão não envolveu os bancários, que foram comunicados junto com o mercado e a população na segunda-feira (12).
Sindicatos de todo o país organizam mobilizações e
ações judiciais contra medidas que consideram ilegais, como transferências de
funcionários pra fora das praças onde trabalham e extinção do cargo de caixa.
Outras 243 agências serão convertidas em postos de
atendimento e oito postos de atendimento serão transformados em agências.
Outras 145 unidades de negócios serão transformadas em lojas Banco do Brasil,
sem guichês de caixas. O banco informou também a criação de 28 unidades de
negócios, sendo 24 especializadas em agronegócio.
No Rio Grande do Norte, pelo menos três agências
terão as atividades encerradas em definitivo: as unidades da avenida Amintas
Barros, em Natal; da Cohabinal, em Parnamrim; e Santa Luzia, em Mossoró. Outras
três foram escolhidas para serem transformadas em postos de atendimento:
Guamaré, Alto do Rodrigues e Jardim do Seridó.
Também deve ser fechado o posto de atendimento de
Tangará e outro em Natal, localizado no TRT, que há quatro anos era também uma
agência completa. Há uma paralisação marcada para a quinta-feira (14) acordada
entre os sindicatos do RN, do Maranhão e de Bauru, em São Paulo.
O dirigente sindical Eduardo Xavier, completa
lembrando que unidades bancárias sem caixas e sem tesouraria conseguiram
nacionalmente a dispensa de portas de segurança e de profissionais de
vigilância, tornando o ambiente de trabalho mais inseguro e aprofundando a
perda de empregos.
“Será grande a quantidade de vigilantes e copeiras
que ficarão sem emprego. Os bancos empregam muito, mesmo com esse processo. São
500 mil bancários no país e um milhão de empregos ligados, reunindo pessoas
terceirizadas”, avalia Xavier.
Juvêncio acrescenta ainda a extinção da função de
caixa, deixando cerca de 4.200 pessoas sem a gratificação do cargo. “Temos 10
mil no Brasil, e em torno de 180 no RN. Boa parte já trabalha como
“substituto”. Agora todos os caixas vão perder a gratificação mensal. Todos
serão caixas substitutos sem a gratificação permanente”, conta o sindicalista,
explicando que a instituição tenta justificar que as agências já não precisam
de caixas.
Digitalização
De acordo com o Banco, desde 2016, a quantidade de
transações em guichês de caixa reduziu 42%, enquanto o uso do mobile quase
dobrou no mesmo período e já responde por 86% das transações, junto com o
internet banking.
A tendência se acentuou durante a pandemia de
covid-19. Desde abril de 2020, o App do BB ganhou mais 4,7 milhões de usuários,
totalizando 19,4 milhões, com uma média diária de crescimento 273% maior do que
o período anterior à crise sanitária. O atendimento pelo WhatsApp também
registrou crescimento expressivo chegando a quase 600 mil atendimentos por dia.
Apesar do crescimento do meio digital, Juvêncio
lembra que o que se nota nas agências são filas enormes de clientes à espera de
atendimento por causa do efetivo reduzido. Isso demonstra que a população
precisa do atendimento presencial, conclui Hemérito: “Parte da população
brasileira ainda não tem acesso ao aplicativo. Uns por dificuldade com a tecnologia,
outros porque não têm acesso ao bem material [smartphone e/ou computador], ou
até mesmo pagamento da internet”.
Privatização
A instituição diz que as ações têm “o objetivo de
reforçar a competividade, buscando a perenidade dos negócios, a eficiência operacional
e o fortalecimento do protagonismo histórico da Instituição frente ao segmento
financeiro”.
O Sindicato aponta que a real motivação é o
esvaziamento da empresa pública para viabilizar a privatização. “O objetivo do
governo Bolsonaro é esvaziar as estatais. Esvaziando a função pública do BB,
fechando agências, enfraquecendo atuação do mercado, o objetivo principal é a
privatização. Não é à toa que estão reduzindo custos, enxugando ao máximo para
depois ofertar no mercado”, explica Juvêncio.
A contenção gerada com a reestruturação
recém-anunciada nada tem a ver com a saúde financeira da instituição. No
acumulado de 2020, o Banco do Brasil reportou um lucro de R$ 9,3 bilhões.
A economia líquida anual estimada com despesas
administrativas gerada por estes movimentos, exceto o impacto dos planos de
desligamento incentivado voluntário, é de R$ 353 milhões em 2021 e R$ 2,7
bilhão até 2025.
“Os bancos são, na verdade, parasitas. Utilizam
dinheiro de terceiros pra gerar exploração e lucros”, destaca diretor sindical.
A instituição informou que o número final de
adesões aos planos de desligamento, assim como o respectivo impacto financeiro,
“serão informados ao mercado” após o encerramento dos períodos de adesão, que
ocorrerá até 5 de fevereiro.
“Na pandemia os bancos foram basicamente os únicos
que não tiveram prejuízo. Quanto mais crise, mais eles lucram. Os bancos são,
na verdade, parasitas. Utilizam dinheiro de terceiros pra gerar exploração e
lucros”, define o representante da classe trabalhadora.
O encolhimento do Banco do Brasil não começa agora.
Em agosto de 2019, 2.367 funcionários aderiram a um plano de desligamento
incentivado no Banco do Brasil. Em setembro de 2020, de acordo com último
balanço de resultados, o BB tinha 92.106 funcionários, queda de 1,9% em relação
a setembro de 2019 (93.872).
Apesar da palavra “voluntário” estar impressa no
plano de demissões, há pressão para que os trabalhadores optem por deixar a
empresa, além da pressão constante dentro da rotina laboral. “Um ou outro até
quer sair porque há uma pressão muito grande dentro das estatais e no serviço
público em geral por atingimento de metas e tem provocado adoecimento mental
enorme nos bancários”, destaca Juvêncio.
Situação dos clientes
Os clientes com agências encerradas serão comunicados
das mudanças, que acontecem a partir do dia 22 de fevereiro. Nesse caso, a
mudança de agência é automática. Os clientes não precisam fazer qualquer
procedimento adicional e podem manter seus cartões e senhas para transações na
nova agência, mesmo que haja alteração no número da conta.
O Banco construiu um hotsite
(https://www.bb.com.br/pbb/pagina-inicial/atendimento/novo-atendimento#/) para
esclarecer as medidas aos clientes. Em caso de dúvidas, os clientes poderão ser
atendidos tanto via WhatsApp – (61) 4001-0001, assim como poderão entrar em
contato com a Central de Atendimento 0800 729 5291, de segunda a sexta-feira,
das 8 às 20 horas.
Governo do RN
A governadora Fátima Bezerra (PT) externou sua
preocupação com o fechamento de agências e a possibilidade de demissão de
funcionários do Banco do Brasil no Rio Grande do Norte. Ao receber a visita da
nova superintendente da instituição no Estado, Priscila Requejo Simões de
Araújo, a governadora destacou a parceria do estado com o banco que opera a
folha de pagamento dos servidores nos 167 municípios.
“Os
bancos estatais são patrimônios do povo brasileiro”, diz governadora.
Além da folha de pessoal, a gestão estadual opera
com o banco na cobrança da dívida ativa por meio de um acordo inédito para a
gestão estadual. Desde 2019, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) enviou dois
lotes de cobranças da dívida ativa e recuperou R$ 7,6 milhões de créditos
“podres”, considerados de difícil recuperação em condições normais.
A superintendente do banco no RN explicou que
aqueles que trabalham nas agências a serem fechadas que não aderirem ao plano
de demissões serão realocados para as 15 novas carteiras que a instituição
passará a operar.
A
governadora solicitou ainda a abertura para parceria em investimentos nos
setores cultural e rural. No ano passado o BB investiu cerca de R$ 1,5 bilhão
em financiamentos a pessoas física e jurídica no RN. “Considero de grande
importância para o estado o fortalecimento do setor financeiro. Os bancos
estatais são patrimônios do povo brasileiro. Apoiar e fomentar o emprego, a
geração de renda e oportunidades de trabalho são iniciativas fundamentais para
dar cidadania ao nosso povo”, finalizou Fátima Bezerra.
Fonte: Saiba Mais
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