“O povo na rua derruba a ditadura” foi a manchete de um jornal da
imprensa alternativa carioca dos anos 70, exprimindo mais um desejo do que
noticiando um fato.
Nessa
noite, na Turquia, pudemos ver que o povo na rua derrubou um golpe de estado.
Quando
o presidente Erdogan convocou o povo para ir às ruas soou como um convite ao
suicídio, pois os golpistas de parte do exército turco ocuparam o aeroporto da
capital, invadiram a televisão estatal, bloquearam pontes, sobrevoavam a cidade
com helicópteros e cercaram o Parlamento com tanques. E estavam, evidentemente,
armados.
Embaixadas
de vários países, inclusive de Portugal, comunicaram aos imigrantes para
ficarem em casa.
Aos
poucos, no entanto, as principais ruas foram se enchendo de gente desarmada
oferecendo um espetáculo inédito: o povo sem armas expulsou os golpistas do
aeroporto, impediu o avanço de tanques, sem que os articuladores da deposição
de Erdogan tivessem tempo de reagir.
Depois
de algumas situações de confronto que resultaram em algo como 17 mortes, nas
quais aviões pró-Erdogan derrubaram helicóptero golpista, entre outras,
notícias de que o golpe falhara foram emitidas, acalmando não só o país, como a
vizinha Rússia e o distante Estados Unidos, que aguardavam com ansiedade o
desenrolar dos acontecimentos.
Soldados
anti-Erdogan foram presos pela polícia e conduzidos pelas ruas sob aplausos da
multidão. Carros abertos com civis carregando bandeiras passaram a desfilar em
homenagem à democracia. A tevê estatal foi desocupada.
Em
poucas horas a rebelião anti-democrática foi sufocada.
Pela
primeira vez um governo conseguiu derrotar os golpistas com a força do povo.
Não
há como não estabelecer um paralelo com o caso brasileiro. O golpe do PMDB, com
Temer à frente, que não tem apoio militar, não usa tanques, nem helicópteros,
prossegue dentro do Congresso Nacional sem que um movimento popular o abafe. Ao
contrário do povo turco, que não se intimidou com o estado de guerra, tanques
nas ruas e helicópteros no céu, o povo brasileiro resume suas ações em
“escrachos” que não produzem os efeitos desejados.
Talvez
falte um Erdogan para convocar uma verdadeira resistência civil ao avanço do
PMDB sobre a democracia brasileira.
FONTE: BRASIL 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário