A Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) apoia a luta da CUT e demais centrais sindicais
contra a reforma da Previdência proposta pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL).
O apoio foi verbalizado ao presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, e aos representantes
das demais centrais sindicais (Força, UGT, NCST, Nova Central, Intersindical,
CTB, CGTB CSP-Conlutas) por dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB,
durante encontro na tarde desta sexta-feira (29), em Brasília.
Na
quinta-feira (28), após três dias de reunião, a CNBB, que lançou em 6 de
março a Campanha da Fraternidade 2019 sob o tema Fraternidade
e Políticas Públicas, divulgou nota na qual se posiciona
contrária à PEC 06/2019 da reforma da Previdência.
No documento
(leia a íntegra abaixo), a entidade ratifica o que a CUT vem denunciando desde
que o texto foi enviado ao Congresso Nacional: "essa reforma sacrifica a
todos, mas principalmente os mais pobres, as mulheres e os trabalhadores
rurais”.
“Há um consenso,
um entendimento, entre a CUT, demais centrais e CNBB sobre os efeitos
devastadores da reforma da Previdência para a classe trabalhadora brasileira,
principalmente os mais pobres”, explica o presidente nacional da CUT.
Segundo
Vagner, o dom Leonardo Steiner também considera que o objetivo dessa reforma,
que ele chamou de “desmonte”, é a capitalização e a
desconstitucionalização da Previdência e Seguridade Social.
“Comungamos
[centrais e CNBB] do mesmo pensamento de que a reforma proposta por Bolsonaro
quer usar a Previdência Social para beneficiar o setor financeiro por meio do
sistema de capitalização, que já se
mostrou devastador em países como o Chile, e também de que o
trabalhador mais pobre será o mais atingido se essa reforma for aprovada”.
A CNBB
A CNBB é o
órgão máximo da Igreja Católica no Brasil, o País com o maior número de
católicos do mundo, de acordo com Anuário Pontifício 2018 e
o Annuarium Statisticum Ecclesiae. Segundo dados do IBGE, 64,6% dos
cristãos brasileiros são católicos. No mundo, são 1,3 bilhão de pessoas.
Campanha da fraternidade
A Campanha
da Fraternidade é uma campanha realizada anualmente pela CNBB no
período da quaresma. No lançamento da campanha deste ano, em 6 de março, o
presidente da CNBB, cardeal Sérgio da Rocha, já havia sinalizado qual seria o
posicionamento da entidade frente às políticas públicas que retiram direitos
dos mais pobres e vulneráveis.
"As
políticas públicas devem assegurar e efetivar direitos fundamentais da
população, a começar dos mais pobres e vulneráveis. O bem dos pequenos e
fragilizados é critério para assegurar se a política está efetivamente a
serviço do bem comum", disse o cardeal.
"Os
pobres e excluídos não podem ser esquecidos; ao contrário, devem ser
considerados com especial atenção e elaboração de políticas públicas". E
considerou: “o desafio de de contribuir para a formulação de políticas públicas
se desdobra e se completa em dois outros grandes mo momentos: acompanhar a
efetivação das públicas e avaliar os seus resultados“.
Íntegra da nota da CNBB
divulgada na quinta-feira (28/03):
Mensagem do Conselho Permanente da CNBB
"Serás libertado pelo direito e pela justiça" (cf. Is
1,27)
Nós, bispos do Conselho Permanente da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunidos em Brasília-DF nos
dias 26 a 28 de março de 2019, assistidos pela graça de Deus, acompanhados pela
oração da Igreja e fortalecidos pelo apoio das comunidades eclesiais,
esforçamo-nos por cumprir nossa missão profética de pastores no anúncio da Boa
Nova de Jesus Cristo e na denúncia de acontecimentos e situações que se opõem
ao Reino de Deus.
A missão da Igreja, que nasce do Evangelho
e se alimenta da Eucaristia, orienta-se também pela Doutrina Social da Igreja.
Esta missão é perene e visa ao bem dos filhos e filhas de Deus, especialmente,
dos mais pobres e vulneráveis, como nos exorta o próprio Cristo: "Todas as
vezes que fizestes isso a um destes pequeninos que são meus irmãos, foi a mim
que o fizestes" (Mt 25,40). Por isso, nosso olhar se volta constantemente
para a realidade do país, preocupados com propostas e encaminhamentos políticos
que ameacem a vida e a dignidade dos pequenos e pobres.
Dentre nossas atuais preocupações,
destaca-se a reforma da Previdência – PEC 06/2019 – apresentada pelo Governo
para debate e aprovação no Congresso Nacional. Reafirmamos que "o sistema
da Previdência Social possui uma intrínseca matriz ética. Ele é criado para a
proteção social de pessoas que, por vários motivos, ficam expostas à
vulnerabilidade social (idade, enfermidades, acidentes, maternidade...),
particularmente as mais pobres. Nenhuma solução para equilibrar um possível
déficit pode prescindir de valores ético-sociais e solidários" (Nota da
CNBB, março/2017).
Reconhecemos que o sistema da Previdência
precisa ser avaliado e, se necessário, adequado à Seguridade Social. Alertamos,
no entanto, que as mudanças contidas na PEC 06/2019 sacrificam os mais pobres,
penalizam as mulheres e os trabalhadores rurais, punem as pessoas com
deficiência e geram desânimo quanto à seguridade social, sobretudo, nos
desempregados e nas gerações mais jovens.
O discurso de que a reforma corta
privilégios precisa deixar claro quais são esses privilégios, quem os possui e
qual é a quota de sacrifício dos privilegiados, bem como a forma de combater a
sonegação e de cobrar os devedores da Previdência Social. A conta da transição
do atual regime para o regime de capitalização, proposto pela reforma, não pode
ser paga pelos pobres.
Consideramos grave o fato de a PEC 06/2019
transferir da Constituição para leis complementares regras previdenciárias como
idades de concessão, carências, formas de cálculo de valores e reajustes,
promovendo desconstruções da Constituição Cidadã (1988).
Fazemos um apelo ao Congresso Nacional que
favoreça o debate público sobre esta proposta de reforma da Previdência que
incide na vida de todos os brasileiros. Conclamamos as comunidades eclesiais e
as organizações da sociedade civil a participarem ativamente desse debate para
que, no diálogo, defendam os direitos constitucionais que garantem a cidadania
para todos.
Ao se manifestar sobre estas e outras
questões que dizem respeito à realidade político-social do Brasil, a Igreja o
faz na defesa dos pobres e excluídos. Trata-se de um apelo da espiritualidade
cristã, da ética social e do compromisso de toda a sociedade com a construção
do bem comum e com a defesa do Estado Democrático de Direito.
O tempo quaresmal, vivido na prática da
oração, do jejum e da caridade, nos leva para a Páscoa que garante a vitória,
em Jesus, sobre os sofrimentos e aflições. Anima-nos a esperança que vem de
Cristo e de sua cruz, como ensina o papa Francisco: "O triunfo cristão é
sempre uma cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se
empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal" (Evangelii
Gaudium, 85).
Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, interceda por
todos os brasileiros e brasileiras!
Brasília -
DF, 28 de março de 2019.
Dom Cardeal Sergio da
Rocha
Arcebispo de Brasília
Presidente da CNBB
Murilo S. R. Krieger
Arcebispo de Salvador
Vice Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
Fonte: CUT
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