Completamos uma semana desde que Bolsonaro foi eleito. Foi uma sucessão tão alucinante de notícias e eventos trágicos para o país que a sensação é de que passou muito mais de uma semana. É como se ele tivesse sido eleito há mais de um mês, há meses. A lista que ele e seu grupo produziram é impressionante.
Na entrevista que marcou a "estreia" de Bolsonaro como presidente eleito, ao Jornal Nacional, na noite de segunda-feira passada (29), o país ficou sabendo que a ameaça de exílio e banimento da oposição está mantida e vale para os líderes do PT e PSOL; que o presidente eleito mantém intacta a mentira do "kit gay" e que a imprensa que não se ajoelhar irá sofrer sanções econômicas.
A partir de então, foi uma atrás da outra.
Ameaça de conflito com a China; ataques ao Mercosul; anúncio da transferência da embaixada brasileira para Jerusalém; ameaça de rompimento das relações diplomáticas com Cuba; ameaça de guerra contra a Venezuela. Com as bravatas, o governo eleito põe e risco quase a metade do comércio externo: 44,6% em valores referentes a janeiro-setembro de 2018 – nada menos que US$ 82,4 bilhões.
Paulo Guedes, um dos homens fortes do novo governo, além dos ataques ao Mercosul, hostilizou abertamente o empresariado industrial brasileiro dizendo que ele vive de fazer lobby, anunciou que tentará liquidar com a Previdência Social brasileira como mecanismo de solidariedade e que pretende implementar o modelo chileno, que causou uma hecatombe sobre os velhos do país atravessado pelos Andes. Não foi só: sinalizou o fim do BNDES e do papel de patrocínio à cultura do sistema S (Sesc, Senai, Sebrae, Senai e outros), voltando-o à tarefa de adestramento dos trabalhadores e trabalhadoras, tal como era idealizada a educação no século 19.
E mais: Guedes defendeu a "independência" do Banco Central, transformando-o em definitivo numa autarquia dos bancos privados. Nos bastidores, tem manobrado intensamente para favorecer os investimentos bilionários de seu grupo, o Bozano, em educação à distância, com a demolição das bases do ensino no país para sua privatização a implantação do modelo à distância (sem escolas físicas) até para as crianças do Fundamental.
Outro que desponta como homem forte do novo governo, o general Augusto Heleno, futuro ministro da Defesa, foi o responsável por reapresentar ao país uma figura que havia sido enterrada com o fim da ditadura: os militares da "linha dura". No período ditatorial, quando os militares davam as cartas na vida nacional, a imprensa criou essa nomenclatura para caraterizar aqueles que eram os operadores do sistema de repressão, tortura e assassinatos políticos semiclandestino dos governos dos generais. Heleno anunciou que acabou a era dos direitos humanos no país e que eles serão reservados apenas para os "humanos direitos" -aquelas pessoas que, aos olhos do novo governo, comportarem-se de acordo com as expectativas.
Na sequência, o general avisou que o novo governo pretende mudar a legislação para que os policiais possam atirar contra as pessoas livremente, sem receio de punição. Ele apoiou abertamente a pretensão do governador eleito Rio de estabelecer uma política de extermínio no Estado e foi além, referendando diretamente a intenção de Wilson Witzel de contratar atiradores ('snipers') para atirar a seu bel-prazer contra 'bandidos'. A ideia escandaliza juristas, que a consideram unanimemente ilegal e conta com a oposição até do ministro da Segurança de Temer, Raul Jungmann, que não pode ser 'acusado' de progressista. Neste domingo, em seu twitter, Bolsonaro indicou seu apoio à ideia dos atiradores.
Augusto Heleno ainda desfechou um ataque violento ao embaixador Celso Amorim. Uma entrevista de Amorim à rede de TV global CNN esteve na origem da agressão. Ele acusou o ex-chanceler e ex-ministro da Defesa de promover uma "campanha no exterior contra o seu próprio país, mentindo sobre a prisão de Lula". E disse que Amorim tem uma "atitude impatriótica, vergonhosa e injustificável” -um discurso típico das ditaduras contra seus opositores. A entrevista aconteceu na segunda-feira (29) e não foi por iniciativa de Amorim, mas da jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, respeitada mundialmente.
Fonte: Brasil 247
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