Todos deram o melhor de si no encerramento da campanha eleitoral mexicana: 90 mil festejaram na Cidade do México o líder das pesquisas, o ex-prefeito Andrés Manuel López Obrador, do Movimento de Renovação Nacional (Morena). López Obrador anunciou duras penas para políticos corruptos e zero de aumento de impostos, assim como uma política econômica focada no mercado interno.
Seu adversário Ricardo Anaya, do conservador Partido da Ação Nacional (PAN) exibiu seu espírito de luta num comício em Guanajuato, afirmando: "Apesar dos infames ataques de nossos oponentes, estamos de pé, somos a única opção para o futuro." Em Coahuila, no norte do país, José Antonio Meade, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), prometeu mais segurança, classificando López Obrador como uma "ameaça autoritária".
Começou a contagem regressiva para a eleição presidencial no domingo de 1 de junho. Com López Obrador, pela primeira vez pode chegar ao palácio presidencial um candidato temido pela elite, que o compara ao populista de esquerda venezuelano Hugo Chávez. É a terceira vez que o político de 64 anos concorre ao cargo. Desta vez ele tem, nas pesquisas, entre 10 a 18 pontos percentuais de vantagem sobre o segundo colocado, Ricardo Anaya.
Isso se deve, em parte, ao fraco desempenho dos governos anteriores, do PAN e do PRI, e também à conexão emocional que o carismático candidato consegue construir com seus eleitores. O fato de ele não temer o rompimento com partidos (em 1988, com o PRI e em 2012, com o esquerdista Partido da Revolução Democrática) quando estes contrariam suas convicções o transformou numa alternativa ao sistema, uma vantagem no atual momento, em que domina um clima de frustração com o meio político.
"Precisamos de mudança. Os políticos só enchem os próprios bolsos, instigaram a guerra das drogas, e o povo sofre", diz o estudante de música David Pérez, de 27 anos, que dará seu voto a Obrador. Já Tania González, votando pela primeira vez, pensa diferente: "López Obrador vai arruinar a economia, e então será pior para todos. Por isso, prefiro Anaya, que é mais jovem e tem um programa mais moderno."
Concorrência apagada
O favorito do empresariado, Ricardo Anaya, conduziu uma campanha agressiva e cara, tem um programa bem estruturado e expôs nos debates as banalidades de López Obrador – tal como afirmar ser suficiente um bom exemplo para combater a corrupção.
No entanto, o ambicioso político de 39 anos não conseguiu chegar à liderança das pesquisas. Sua candidatura foi prejudicada por acusações de lavagem de dinheiro, por sua imagem de yuppie e de homem inescrupuloso, sedento de poder, além de disputas internas em sua coalizão. No entanto sua equipe de campanha ainda espera um milagre de última hora – e pelos 20% de indecisos.
Em terceiro lugar nas pesquisas está José Antonio Meade. Embora seja visto como um tecnocrata íntegro, o concorrente governista tem candidatura enfraquecida pelos escândalos de corrupção nos últimos anos da presidência de Enrique Peña Nieto, assim como pelas taxas de criminalidade e violência crescentes e por impopulares aumentos de impostos.
Meade não tem carisma, e a base do PRI não ficou muito satisfeita com a indicação do político apartidário para concorrer. Tudo isso pode levar o PRI a obter o pior resultado de sua história. O mandato de Peña Nieto (2012-2018), iniciado como o retorno triunfante do PRI ao poder, pode se tornar, na perspectiva histórica, apenas um hiato na rota de decadência do ex-partido estatal.
Esperança de mais justiça social
Fundado em 2012 por Andrés Manuel López Obrador, o Movimento de Renovação Nacional (Morena), pode se tornar a bancada mais forte do Congresso. No entanto, com curiosas alianças, incluindo desde evangélicos ultraconservadores e antigos integrantes de PAN e PRI a ex-comunistas e representantes de grupos de milícias.
Difícil prever onde isso acabará. Obrador é atualmente a liga que supera todas as diferenças e na qual os mexicanos projetam sua esperança de que o bolo da prosperidade seja distribuído de forma mais equitativa, pois o México cresceu cerca de 2% ao ano nos últimos 12 anos.
O país se industrializou e se tornou o quarto maior exportador automotivo do mundo. Mas, ao mesmo tempo, a taxa de assassinatos dobrou, a alta inflação de 4,5% ao ano fez com que os salários reais caíssem, e a taxa de pobreza manteve-se em 36%., enquanto educação e saúde progrediram demasiado lento para acompanhar as necessidades crescentes da nova classe média.
Fonte: Carta Capital