O governo golpista de Michel Temer promoveu mais um retrocesso na Educação e acabou com as bolsas de graduação do programa Ciência Sem Fronteiras.
O programa foi criado pela gestão da presidenta eleita Dilma Rousseff com o objetivo de promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio.
Quando foi lançado, em 2011, o Ciência sem Fronteiras previa a concessão de 101 mil bolsas de estudo no exterior, sendo 75 mil a serem financiadas pela União e 26 mil pela iniciativa privada. Com a concessão das 92 mil bolsas, foram investidos cerca de R$ 12 bilhões na formação de cientistas brasileiros.
Em nota, o Ministério da Educação do atual governo golpista comparou os gastos do programa com os gastos com merenda na educação básica, ainda que, pela Constituição, a garantia do Ensino Básico seja responsabilidade dos Municípios. O ministro da Educação, Mendonça Filho, também disse em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, que “o intercâmbio de graduação é absolutamente inconsistente do ponto de vista técnico”.
Já o cientista Miguel Nicolelis, considerado um dos vinte maiores cientistas do mundo pela revista “Scientific American”, pensa o contrário. “Ao longo dos últimos anos, em todas as minhas palestras pelo mundo, me emocionei ao encontrar alunos brasileiros que descobriam o mundo pelo programa”, afirmou, em publicação no Twitter. Para Nicolelis, com Temer o Brasil está “correndo a toda velocidade rumo ao passado”.
Mudanças não justificam fim do programa
Para Arthur de Oliveira Uchôa, que foi beneficiado pelo programa com uma bolsa de mestrado no Illinois Institute of Technology (IIT), nos Estados Unidos, o programa precisava de ajustes, mas não deveria ter sido encerrado. Questionado sobre como avalia o Ciência Sem Fronteiras de forma geral, ele diz que é “extremamente importante para educação brasileira em nível superior, dava oportunidade de entrar em contato com universidades de ponta, com estudantes do mundo inteiro, conhecer estudos e até trazer novidades para o Brasil”.
Segundo Uchôa, deveria haver mudanças nos critérios de seleção, de retorno dado pelo intercambista, e até mesmo uma expansão para as áreas de humanidades. “O programa deveria ser reformulado, mas acho que deveria manter”, defendeu.
Para ele, o Ciência sem Fronteiras deu oportunidade para jovens brasileiros saírem do país, aprenderem e verem com os próprios olhos, “meter a mão na massa” e poder refletir essa experiência na realidade do Brasil. “Esse é o principal ganho, de troca de conhecimento, experiencia, e também temos muito que ensinar a eles”, completou.
A doutoranda em administração financeira no IIT, Camila Cristina Lara Prado, que é beneficiária do Ciência sem Fronteiras na pós-graduação, também acha que o programa precisava ser reformulado, mas não deveria acabar. Para ela, o intercâmbio é importante, pois “viver uma experiência fora do país, em um lugar diferente, abre novas ideias, novos caminhos, que as vezes não temos quando ficamos sempre no mesmo lugar. É uma abertura de possibilidades até de trazer para o Brasil”.
Segundo Camila, “o programa de graduação precisava de reestruturação no acompanhamento e seleção”. “Acho que o programa é uma oportunidade muito boa. Não justifica o término, mas acho que não dava para continuar do jeito que estava”.
Ela também disse sentir medo de que as bolsas da pós-graduação sejam suspensas sem aviso. “Não temos garantia de que a bolsa não vai ser cortada. A bolsa é renovada anualmente e nosso medo é que nessa renovação o CNPQ use alguma desculpa para cortar as bolsas por motivos financeiros”, explica ela. A bolsa do Ciência Sem Fronteiras é paga via Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPQ.
Retrocesso causa indignação
Parlamentares do Partido dos Trabalhadores e do campo progressista criticaram o retrocesso que significa o fim das bolsas do Ciência Sem Fronteiras para estudantes da graduação.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) repetiu Nicolelis e disse esperar “que seja um até logo, e que o Ciência sem Fronteiras retorne junto com a democracia neste país”.
O senador Humberto Costa (PT-PE) classificou Mendonça Filho como “ministro mãos de tesoura”, por conta do corte.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) também criticou o fim do programa.
Jandira Feghali (PCdoB-RJ) disse que “a visão míope desse governo e seus ministros é fatal para o futuro do país”.
A União Nacional dos Estudantes (UNE) classificou o corte das bolsas como “ louca cavalgada em direção ao passado”, que coloca o Brasil na contramão de países que investem na formação científica e tecnológica.
Por Pedro Sibahi, da Redação da Agência PT de notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário