A marca dos 100 dias iniciais de um governo simboliza, em democracias do mundo todo, quais serão as expectativas para o restante do governo em questão. Em suma, trata-se de um balanço que avalia tudo o que foi prometido pelo presidente eleito e o que de fato saiu do papel – e o que não passou de promessa vaga ou até mesmo fake news.
No Brasil, no entanto, avaliar o centésimo dia de Jair Bolsonaro no cargo máximo da República é um exercício que requer mais do que entendimento sobre os bastidores da política. Exige, na verdade, uma boa dose de paciência: com a pior avaliação de um presidente eleito desde a redemocratização, o ex-militar e apoiador do golpe de 64 ainda age de maneira irresponsável, desdenha de todos os que apontam falhas em seu governo e coloca em xeque a si mesmo diante de tamanho despreparo.
Outro agravante, que acaba com qualquer dúvida sobre o medo de encarar o povo, é a insistência em manter-se escondido nas redes sociais – ferramenta decisiva em sua eleição a partir da produção em massa de notícias falsas. Segundo levantamento feito pela Folha, Bolsonaro publicou 385 vezes em sua conta no Twitter durante os 70 primeiros dias de governo. Deste total, 46% delas trataram de anúncios com planos e propostas de governo. Em contrapartida, foram raros os momentos em que ele esteve de fato nas ruas, como manda o figurino de alguém que se vendeu como renovação e esperança.
Mas este, acreditem, é o menor dos problemas de um governo que afunda o país num lamaçal de retrocessos, coloca em xeque a soberania nacional, encerra uma longa tradição diplomática com parceiros comerciais e tem uma equipe que não se cansa de envergonhar a nação mundo afora. O que fica de marca registrada até agora é o que todos já conheciam há pelo menos três décadas: Bolsonaro é um aventureiro eleito na esteira da cultura de ódio disfarçada de solução para as mazelas brasileiras.
A seguir, as provas incontestáveis do governo que até agora não “mudou tudo que está aí” e está muito longe de colocar em prática “um novo jeito de fazer política”.
“Estreou” reduzindo salário do povo
Logo em seu primeiro dia no cargo, Bolsonaro assinou decreto em que reduz o aumento previsto para o salário mínimo de R$ 1.006 para R$ 998 – em 2018, o vencimento base do trabalhador estava em R$ 954. A decisão entrou imediatamente em vigor e reforça a política de desvalorização do SM iniciada a partir do golpe de 2016. Além disso, praticamente acaba com a fórmula criada pelo governo Lula em 2003 e transformada em lei por Dilma que aplicava ganhos reais no salário mínimo do trabalhador – sem a política de valorização o salário mímino hoje estaria na casa dos R$ 500.
Combate à corrupção? Fake news!
Bolsonaro construiu sua candidatura a base de notícias falsas e promessas que, antes mesmo de assumir o cargo, já começam a ser descumpridas. A principal delas era o combate à corrupção, tema que também estimulou diversas decisões absurdas do seu ministro da Justiça, Sérgio Moro. Sem dar a mínima para os seus próprios eleitores, o militar não só ampliou o número de ministérios prometidos como formou um time repleto de nomes com problemas na Justiça. Ao menos nove dos futuros ministros anunciados logo no primeiro dia de governo são investigados ou réus em ações judiciais. A lista vai do caixa 2 confesso por Onyx Lorenzoni (DEM) às candidatas laranjas do desconhecido deputado Marcelo Álvaro (PSL), ministro do Turismo.
Primeira vergonha internacional como presidente
O discurso de Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), lugar em que Lula brilhou em 2003, fez diversos jornais internacionais se perguntarem: o que será do Brasil com um presidente tão despreparado? Ainda no próprio evento, Jair teve a oportunidade de mostrar que não passa de um aventureiro no cargo máximo da nação, mas preferiu dar novo vexame ao fugir da imprensa. A repercussão de sua postura teve definições como “desastre”, “realmente bizarro”, “grande falha” e até “Bolsonaro me dá medo”.
A destruição disfarçada de reforma
Considerada a pauta fundamental para a sobrevivência do governo, a reforma da Previdência elaborada por Paulo Guedes e proposta por Bolsonaro tem levado milhares de pessoas às ruas, já que poderá agravar ainda mais a miséria do país caso seja levada adiante. Cruel especialmente com os idosos, às mulheres e os trabalhadores rurais, a PEC 06/2019 tem causado problemas também ao próprio governo, incapaz de dialogar com o Congresso e, mais do que tudo, de apresentar os argumentos para propor algo tão radical e que, segundo a maior parte dos especialistas, não tem qualquer justificativa plausível. O debate sobre a “reforma” deverá se arrastar por meses.
O Carnaval #elenão e a reação absurda de Jair
A perda de moral e credibilidade até mesmo entre os seus súditos exigia, a qualquer chefe de estado, uma resposta objetiva e que amenizasse o desgaste da imagem do governo. Mas estamos falando de Jair Bolsonaro e, em pleno Carnaval, ele voltou a mostrar que não dá a mínima para o povo. Pelo Twitter, para variar, o presidente resolveu atacar a festa mais popular do país, marcada por milhares de protestos contra o seu governo, ao compartilhar um vídeo obsceno como se fosse a fiel representação do que acontece durante os cinco dias de festa. A reação foi ainda pior e, além de deturpar a imagem do Brasil perante o mundo, só fez gerar novas piadas contra ele – embora a divulgação de conteúdo explícito na internet merecesse uma punição séria ao presidente.
O complexo de vira-latas e a submissão aos EUA
Após ter prestado continência à bandeira dos EUA quando ainda era parlamentar, Jair Bolsonaro voltou a mostrar que está longe de ser patriota ao se rebaixar aos anseios do país de Donald Trump. Em viagem ao país, tentou emplacar a ideia de que a relação seria benéfica aos brasileiros, mas saiu de lá com uma série de acordos unilaterais, sem nenhuma contrapartida dos estadunidenses. Uma postura entreguista, que afronta a soberania nacional e desrespeita o povo brasileiro. Permitir exploração comercial da Base de Alcântara, cota para importação do trigo sem taxas, fim da exigência de visto para estadunidenses e entrega do Pré-sal foram algumas das medidas anunciadas.
O absurdo de propor uma “festa” para ditadura
Atordoado com uma coleção incontável de problemas internos, somados ao escancarado destempero para lidar com a imprensa, o Congresso e o aumento da impopularidade, Bolsonaro resolveu “brincar” com algo que mais uma vez chocou o mundo: o despreparado presidente sugeriu aos quartéis de todo o país que se “fizessem as comemorações devidas” do Golpe Militar de 1964. A falta de humanidade de Jair, já bastante assustadora durante toda a sua pífia trajetória parlamentar, chevaga à máxima potência e acabou por trazer à tona inúmeras reportagens sobre o período mais sangrento da história recente do país. Para variar, Bolsonaro disse que foi mal interpretado – como se interpretação fosse algo com a qual um dia teve o mínimo de apreço.
Prometeu emprego, não cumpriu e deu chilique
O discurso de acabar com o desemprego ruiu antes do fim do terceiro mês como presidente. De acordo com IBGE, no trimestre encerrado em fevereiro, o número de pessoas sem trabalho chegou ao de 12,4%. Até janeiro, era de 12%. Em números absolutos, o país teve acréscimo de 892 mil de desempregados nos primeiros meses do governo de Jair Bolsonaro (PSL). Ele, havia iludido a população com a promessa de criar 10 milhões de vagas no mercado, não conseguiu, mais uma vez, manter sua palavra. Para piorar, no lugar de apresentar propostas e criar planos para conter a crise, resolveu atacar o IBGE pela divulgação dos números. Seria cômico se não fosse a vida do povo que estivesse em jogo.
Da Redação da Agência PT de Notícias
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