quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Petroleiros entram em estado de greve nacional em protesto contra a privatização da Petrobrás


FUP – A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos filiados vão encerrar o ano de 2021 em estado de greve nacional, num protesto contra as ameaças que o Governo Federal vem fazendo sobre um possível plano de privatização da Petrobrás. A deliberação foi aprovada pela ampla maioria da categoria petroleira, nas assembleias realizadas até essa quarta-feira (22), em todo o Brasil.

“Isso significa que, caso o presidente Jair Bolsonaro tenha a audácia de apresentar no Congresso Nacional o projeto de lei que prevê a venda da estatal, a realização de uma das mais fortes greves da história do setor já está sinalizada pelo setor”, garante o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, que prevê um movimento bem parecido com as duas maiores greves dos trabalhadores, em 1995 e 2020.

Bacelar garante que a FUP e seus sindicatos jamais vão aceitar calados o projeto de privatização. “A Petrobrás está sendo esquartejada e, enquanto isso, o povo ainda paga preços exorbitantes pelos combustíveis”, afirma Bacelar.

O dirigente lembra que, no último dia 30, a Petrobrás concluiu a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, para o fundo Mubadala, por US$ 1,65 bilhão, “valor cerca de 50% inferior em comparação com os cálculos estimados pelo estudo do pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep)”. Também em 2021 foram assinados os contratos para venda da Refinaria Isaac Sabbá (REMAN), no Amazonas, e da Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), no Paraná. “Vamos responder à altura e faremos de tudo para proteger os ativos que ainda pertencem à estatal”, comenta o coordenador da FUP.

De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), de março de 2015 até novembro de 2021, a Petrobrás se desfez de 78 ativos, sendo 70 no Brasil e oito no exterior. Desse montante, 76% foram vendidos durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, com o total de R$ 152 bilhões. Alguns desses ativos tiveram o processo de venda iniciado no governo anterior (Michel Temer). “Ainda assim, essas vendas refletem a disposição do atual governo de destruir a Petrobrás, patrimônio dos brasileiros, a preço de banana”, lamenta Bacelar. Nos governos dos ex-presidentes Michel Temer e Dilma Rousseff, foram comprados da estatal, respectivamente, 15 ativos, por R$ 100 bilhões, e quatro, por R$ 9 bilhões.


ativos-petrobras

Na Globo, Fátima Bernardes anuncia campanha do MST contra a fome (vídeo)


247 - A apresentadora Fátima Bernardes divulgou, na Globo, a campanha Natal sem Fome, do MST. "Muito importante essa campanha. Para quem puder ajudar é fundamental que essa noite seja de menos dor para as pessoas que estão precisando tanto", declarou. 

Veja:

Para doar para o Natal sem Fome, siga os dados abaixo:

PIX campanha@institutocultivar.org.br

Dados Bancários
Caixa Econômica
AG 1231
CC 2260-1
OP 003
CNPJ 11.586.301/0001-65

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Com catadores e moradores de rua, Lula fala em governo de concertação: 'Bolsonaro vai sair de mansinho'


Rede Brasil Atual - No primeiro ano de seu governo, em 2003, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou pela primeira vez do Natal dos Catadores e ganhou o título de “Amigo do Catador”. No final do segundo mandato, em 2010, um de seus últimos compromissos oficiais foi no mesmo evento, comemorando a entrada em vigor da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305). Nesta quarta-feira (22), Lula encontrou-se com catadores e também com moradores de rua, em São Paulo, e falou em um governo de “concertação” a partir de 2023. E disse que não adianta o atual mandatário esbravejar: “(Jair Bolsonaro) Vai sair de mansinho, porque o povo brasileiro que vai dar um golpe nele e tirar ele da Presidência da República”.

No encontro na tarde de hoje, na quadra do Sindicato dos Bancários, região central da capital paulista, o petista ouviu testemunhos, “entrevistou” pessoas, ganhou panetone feito pela população em situação de rua e até ouviu o pedido de uma representante dos catadores, Claudete Costa, que disse querer se tornar ministra do Meio Ambiente no governo Lula. Ele brincou dizendo que não tinha sido eleito e não podia prometer cargos, mas disse ter certeza de que ela se sairia muito melhor do que “esse cara que foi ministro do Bolsonaro”. Recebeu outro pedido: “A gente quer que o senhor assine a Política Nacional para a População em Situação de Rua”.

Fome, violência e gripe

De Sebastião, Walter, Darcy, Régis (o Jamaica), Edvaldo, Robson e outros, Lula escutou relatos sobre pobreza e superação, muitas queixas contra a violência policial e descaso do poder público. O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, da Arquidiocese de São Paulo, falou da fome e do recente surto de gripe, que está atingindo “duramente” a população. “Nas unidades básicas não tem dipirona”, alertou.

Proteção social não é apenas transferência de renda, lembrou o padre. “Temos que acabar com os resquícios da Lei de Segurança Nacional e da lei de terrorismo.” Ele observou que a população de rua vem aumentando em proporção maior que a do crescimento demográfico. Antes de ler um trecho do Evangelho de Lucas, também fez referência ao slogan do atual governo: “(Deus) está no meio de nós. Não acima. Quem diz que Deus está acima é protofascista”.

No evento, estavam dois ex-prefeitos de São Paulo: Fernando Haddad, que deve concorrer ao governo estadual, e a ex-petista Marta Suplicy, que se referiu a Lula como “lutador, que tem meta, diretriz, força interna”. A presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), também fez um breve pronunciamento.

Depois de perguntar a alguns representantes dos movimentos sobre seus sonhos, Lula recebeu a questão de volta. Falou em um país melhor e completou: “Vamos começar a realizar esse sonho em 1º de janeiro de 2023”.

Um psicopata no poder

O ex-presidente disse que é preciso “humanizar” a sociedade brasileira e “extirpar” o ódio. E defendeu mudança de pauta. “Pra que que a gente elege um governo, um prefeito, um governador? Só tem sentido se essa pessoas cuidar dos interesses da maioria do povo”, afirmou. Para ele, o Brasil, vive uma crise inédita, não só econômica e social, mas moral, de falta de respeito, solidariedade e afeto. E “crise de um psicopata que está governando este país, que não se importa com as 600 mil vidas perdidas pela covid”.

Segundo Lula, o atual presidente “não tem sentimentos”, nunca visitou um hospital, nem conversou com algum parente de vítima da covid-19. Ele pediu que as pessoas continuem se prevenindo. “Nós vamos ter que tomar vacina, nós vamos ter que usar máscara e vamos ter que evitar grandes aglomerações.”

Recuperar a soberania

O petista voltou a enfatizar o papel do Estado na economia. “Quando tem crise, os autores da crise desaparecem e quem aparece é o Estado. Precisamos fazer uma concertação. E é este o meu objetivo. Só tem uma razão para eu voltar a ser candidato: eu quero provar que é possível a gente recuperar a soberania. Tomar conta de suas fronteiras, do seu espaço aéreo, suas florestas, sua água, melhorar a vida do povo”, disse Lula.
Na parte final de seu pronunciamento, referiu-se aos efeitos negativos da “desgraça da Lava Jato“, que além de tirá-lo da disputa eleitoral em 2018 ajudou a destruir milhões de empregos e a indústria de óleo e gás, conforme aponta um estudo do Dieese. E acrescentou, sem citar nomes: “Mas nós vamos dar uma surra neles. Eles não têm noção do que é sobreviver sem a proteção da toga”.


Jegues são abatidos no Nordeste para produção de remédio na China

 


A população de Amargosa, cidade do centro-sul da Bahia, sofre com um dilema envolvendo o jumento, o jegue, uma tradicional espécie do Brasil e símbolo histórico da luta diária do sertanejo. O município, a 119 km de Salvador, se tornou dependente de um mercado que cresce a cada ano, mesmo sob a acusação de colocar a existência do animal em risco.

Na cidade funciona o Frinordeste, hoje o principal frigorífico de abate de jumentos do país, que pertence à JBS, mas foi arrendado por dois cidadãos chineses e um brasileiro. Nele, cerca de 1,2 mil animais são abatidos todas as semanas para posterior exportação à China, segundo funcionários ouvidos sob a condição de anonimato.

Eles são mortos com um tiro de ar comprimido entre os olhos. Depois, o couro é retirado, embalado em caixas e levado para a China, onde é transformado em uma gelatina que é usada para produzir o ejiao, um produto medicinal bastante popular e lucrativo da Tradicional Medicina Chinesa. A carne normalmente é separada e exportada para o Vietnã.
Não há comprovação científica de que o ejiao funcione, mas, no país asiático, ele é utilizado para tratar diversos problemas de saúde, como menstruação irregular, anemia, insônia e até impotência sexual. Ele é consumido de várias maneiras, como em chás e bolos.

No YouTube, há vídeos de programas populares da TV chinesa ensinando receitas com ejiao e prometendo ao espectador uma vida “mais saudável.”

Estima-se que o produto movimente bilhões de dólares por ano. Uma peça de couro, por exemplo, pode ser vendida na China por até U$ 4 mil (cerca de R$ 22,6 mil) — uma caixa de ejiao sai por R$ 750. No Brasil, os valores do comércio são bem menores — jumentos são negociados por R$ 20 no sertão, e depois repassados aos chineses.

A alta demanda e lucratividade fizeram com que empresários chineses mirassem o Brasil, país com uma população abundante de jegues — em 2013, havia 900 mil deles, a maior parte no Nordeste, segundo o IBGE. Hoje, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) há por volta de 400 mil.

Mas esse número hoje é maior. Apenas em Amargosa, são 4,8 mil animais por mês — 57,6 mil por ano. Há outros dois frigoríficos com permissão para a atividade nas cidade de Simões Filho e Itapetinga, também na Bahia.

Nos últimos meses, a reportagem da BBC News Brasil se debruçou sobre o comércio e abate de jumentos e como esse mercado vem afetando parte do Nordeste. Embora tenha sido permitida recentemente, a exportação para a produção do ejiao tem sido apontada por especialistas, autoridades e defensores da causa animal como um mercado extrativista.

Para fabricar o produto, os animais são retirados do meio ambiente em grande volume, sem que exista uma cadeia de produção que renove o rebanho, como ocorre com o gado.

Ou seja, eles são abatidos em uma velocidade maior do que a capacidade de reprodução, o que acendeu um alerta de que a população de jegues pode ser eliminada nos próximos ano no Nordeste.
Além disso, o setor cresceu em consonância com o aumento da fome e da pobreza em uma região historicamente já castigada por esses problemas. Mas também cresceu em meio a denúncias de maus-tratos, contaminação de animais por mormo, uma doença mortal, trabalho análogo à escravidão e abandono de jegues à morte por inanição.

A cidade de Amargosa, de 40 mil habitantes e conhecida por sua movimentada festa de São João, é o ponto final do jumento nordestino antes de ele ser abatido e exportado para virar remédio na China. Ela fica em uma região conhecida como Vale do Jiquiriçá, um dos lugares mais bonitos do Brasil, com formações rochosas de 80 metros de altura espalhadas pelo cenário de caatinga.

Segundo o prefeito, Júlio Pinheiro (PT), o setor é o terceiro maior empregador de Amargosa, atrás só da própria prefeitura e de uma fábrica de sapatos. Para ele, o recente mercado é fundamental para a economia do município, gerando empregos, renda e impostos.

“O frigorífico têm ajudado na geração de renda e de empregos diretos, ainda mais num momento tão complicado da economia do país, sobretudo com a pandemia. O frigorífico tem sido a sustentação de centenas de famílias aqui na cidade”, diz Pinheiro, em seu gabinete.

Essa importância econômica foi o principal argumento da cidade ao entrar na Justiça para tentar liberar o abate, que havia sido suspenso após denúncias de maus-tratos, em 2018. Mas não apenas Amargosa procurou a Justiça. O governo estadual, do petista Rui Costa, e o federal, de Jair Bolsonaro (PL), fizeram o mesmo.
Quem decidiu o caso foi Kassio Nunes Marques, hoje ministro do STF e à época, desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Ele não entrou no mérito da ação civil-pública, que ainda corre na Justiça e pede a proibição dos abates.

Em decisão de pouco mais de duas páginas, Nunes Marques concordou que a liminar da Justiça baiana que suspendeu o setor prejudicava a economia da Bahia.

“[A atividade] é legal e está amparada por normativos legais editados pelos órgãos competentes e a interrupção abrupta da referida atividade industrial é passível de causar não só as empresas criadas e dedicadas às atividades danos irreparáveis ou de difícil reparação, como aos municípios que hospedam os referidos abatedouros, como o próprio Estado da Bahia”, escreveu, liberando novamente o setor.

Em Amargosa, o prefeito Júlio Pinheiro considerou a decisão justa, mas diz não conhecer bem os empresários responsáveis pelo abatedouro que funciona na cidade. “É um grupo chinês. Eles vieram aqui (na prefeitura) uma vez, mas não são pessoas conhecidas na cidade”, diz.

O CNPJ do Frinordeste aponta um quadro societário com dois chineses, Ran Yang e Zhen Yongwei, ambos residentes no exterior, e o brasileiro Alex Franco Bastos. Funcionários da empresa, ouvidos sob condição de anonimato, relatam que raramente os proprietários chineses visitam o espaço, e que, no dia a dia, a atividade é comandada por Bastos.

A reportagem tentou entrevistá-lo diversas vezes, indo ao frigorífico, ligando e enviando mensagens pelo WhatsApp, mas nunca obteve retorno. Também enviou mensagem para Zhen Yongwei, mas ele não respondeu.

Já a JBS, que arrendou o espaço para o trio de empresários há três anos, afirmou que “toda a operação da planta mencionada está sob responsabilidade da empresa.”

Três vezes por semana, cerca de 400 jumentos chegam ao Frinordeste em caminhões fechados — 50 por veículo. Funcionários relatam que, diante do calor, de viagens de até 500 km e da condição física debilitada, animais chegam a desembarcar na empresa machucados ou até mortos.

Com pouca variação, a maioria dos 150 trabalhadores ganha por volta de R$ 1.300 por mês. Eles vivem em comunidades pobres perto do frigorífico, locais onde o fornecimento de água só é feito três vezes por semana e onde ainda é possível ver um ou outro jumentos tralhando em tarefas agrícolas.

Embora dependam do serviço para sobreviver em um momento de alta do desemprego e em uma cidade sem muitas alternativas, os funcionários dizem ter dificuldade em lidar com a morte em massa de um animal que faz parte de seu cotidiano — desejam que o frigorífico mude o modelo de negócios para o abate de bovinos.

“Para mim é como matar um cachorro, um bicho de estimação. A gente cresce montando jegue, e agora tem que ver jegue morrendo sem parar. É muito jegue, amigo. Muito mesmo, tem semana que são 1,2 mil. Ninguém aguenta mais ver essa situação”, diz João (nome fictício), que trabalha no frigorífico e depende do salário para sustentar a família.
Ele passou meses desempregado e, sem opção, aceitou um emprego. “Trabalho por que preciso, não por concordar. Mas, se fechar, como ficam as famílias aqui?”, diz.

A gente nem sabe direito porque estão fazendo isso, o que vão fazer com eles… Muitos chegam aqui machucados, morrendo. É um animal que a gente vê desde pequeno, faz parte da nossa vida. É complicado participar disso, mas a precisão exige. Tenho filhos para criar, a situação está bem difícil”, afirma.
Os animais são recolhidos em vários pontos do Nordeste, como nos arredores da cidade de Paulo Afonso, no norte da Bahia, a 534 km do frigorífico. Eles são pegos ou comercializados por agricultores pobres que trabalham no setor para fugir da fome, sob a supervisão de fazendeiros.
Um desses núcleos tinha um sertanejo em situação de fome como personagem. Em abril, ele foi abordado pela Polícia Militar depois de uma denúncia anônima apontar furto de jegues em Paulo Afonso, além de supostos maus-tratos.

Com ele foram encontrados 13 animais, embora ele tenha negado os furtos. Segundo o Boletim de Ocorrência, os jegues estavam em “claro estado de maus-tratos”, machucados, e sem água e comida por pelo menos três dias. Mas os jumentos não eram do sertanejo.

No BO, ele narra que recebia R$ 20 por animal recolhido, o único sustento da família. “Com esse dinheiro é que estava vivendo, utilizando-o para comprar leite para os meninos, fraldas e comida para a casa”, narra o documento.

Diz ainda que era a segunda vez que ele caçava e vendia jumentos, mas que não tinha dinheiro para alimentá-los. “Narra que os pegou apenas para colocar o que comer para o filhos.”

Quem comprava os jegues do sertanejo era um policial civil e fazendeiro chamado Antônio Fernando Filho, de 59 anos, morador da cidade de Rodelas, também no norte da Bahia.

No BO, ele afirmou que tinha mais de 100 em sua fazenda e que os repassava aos chineses — também argumentou que alimentava os animais e seguia todas as regras sanitárias.

Em entrevista à BBC News Brasil por telefone, Filho diz que trabalhou na área por dois anos, mas parou depois do caso narrado acima. Ele ainda tem 30 animais em sua fazenda, mas diz que o local foi arrendado por outra pessoa, que recolhe jegues no interior do Piauí e do Maranhão. “Estão todos comendo feno e bebendo água do rio”, afirma.

O fazendeiro afirma que recebia uma comissão dos frigoríficos de até R$ 50 por animal coletado — era um complemento para sua renda como policial civil de Rodelas.

“A gente pegava no mato, na estrada, em qualquer lugar. Quando juntava uns 50, colocava num caminhão e enviava pro frigorífico em Amargosa, Simões Filho e Itapetinga (locais de outros abatedouro licenciados).”
Mas, nos últimos meses, o comércio na região de Paulo Afonso diminuiu muito, diz. “Tem muito jumento ainda, mas eu parei também porque tem muita concorrência hoje, todo mundo atrás de jumento pra vender pros chineses. Aqui quase não tem mais animal, caiu 80%. Mas o povo precisa, está muito necessitado.”

No dia 18 de novembro, a reportagem encontrou cerca de 20 jegues em uma área de Caatinga, às margens de uma rodovia praticamente deserta que liga as três cidades. Eles estavam sozinhos, pastando, algumas fêmeas grávidas e um filhote — um dia depois, desapareceram do local. Havia vegetação e água porque tinha chovido dias antes, mas nem sempre é assim.

Em 9 de julho deste ano, por exemplo, a Polícia Militar da Bahia recebeu uma denúncia: centenas de jumentos que seriam abatidos no Frinordeste estavam morrendo de fome e sede na fazenda Boa Esperança, em Itatim. Quem os encontrou foi o tenente Benjamin Pereira e Silva, comandante do pelotão da PM na cidade.

“Infelizmente a situação era pior do que imaginávamos. Eram uns 200 animais, que tinham vindo da cidade de Rodelas. Eles estavam bem debilitados, machucados, muitas fêmeas prenhas, muitas abortando. Não tinha mais capim nem água, nenhuma comida para eles. Era uma área totalmente árida.”

“Encontramos muitos animais mortos, com urubus em cima. Não havia nenhum tipo de apoio de equipe veterinária. Levamos o gerente para a delegacia e ele foi autuado por maus-tratos”, relata o tenente.
Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Em 2019, centenas de jegues foram encontrados em situação parecida nas cidades de Canudos e Itapetinga, também no interior da Bahia. Nestes casos, os animais seriam destinados a outros abatedouros, não o de Amargosa.

Em Canudos, estima-se que 200 dos cerca de mil jumentos encontrados morreram de inanição. Os outros estavam bastante debilitados. No local, foram encontrados dois imigrantes chineses, responsáveis por cuidar do rebanho.

“Eram dois jovens que não recebiam salário para trabalhar ali. Não falavam português, tivemos que usar o Google Tradutor”, conta Patrícia Tatemoto, PHD em biologia e pesquisadora da ONG britânica The Donkey Sanctuary, que atua na defesa do jumento contra o mercado de ejiao.

“Quando os encontramos, eles não tinham comida na fazenda, estavam com fome, não tinha nem banheiro. O laudo da polícia apontou que eles estavam em trabalho análogo à escravidão.”

Outro problema envolvendo o comércio de jumentos é uma doença chamada mormo, zoonose contagiosa que afeta equídeos e asininos e pode ser transmitida ao ser humano — o índice de mortalidade é alto, segundo pesquisadores. Ela é transmitida por contato de gotículas contaminadas com olhos, pele, mucosas e aparelho respiratório.

Em 2019, a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) decidiu examinar o sangue de 694 jumentos que foram apreendidos em Canudos. Dez deles estavam infectados com Mormo e precisaram ser sacrificados — outros 14 tinham anemia infecciosa equina, doença causada por um vírus.

“O contágio pela bactéria do mormo ocorre pelo contato de animais infectados com os indivíduos, como fazendeiros e veterinários”, explicou Eusébio Lino Filho, médico-residente em infectologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em uma audiência pública sobre o assunto na Assembleia Legislativa da Bahia.

“No raio-X foi constatado um aumento no tamanho do coração incomum para a idade. Mesmo medicado, o paciente evoluiu mal. A pressão caiu, ele tinha vários nódulos no pulmão e abcessos pelo corpo”, relata o médico, que participou do tratamento do paciente. Diagnosticada com mormo e tratada por 21 dias no hospital, a criança depois melhorou e recebeu alta.

Mesmo com casos de infecção em jumentos, a Adab decidiu retirar a obrigatoriedade do exame de mormo em jumentos que são abatidos nos três frigoríficos.

A agência diz que a decisão seguiu orientação do Ministério da Agricultura: “Do ponto de vista de saúde animal, visando o controle e erradicação da doença no país, não há ganhos de vigilância em se realizar exames de mormo em animais destinados ao abate”.

Também informou que os estabelecimentos funcionam sob SIF (Serviço de Inspeção Federal). No Frinordeste, fiscais do ministério checam “condições de transporte e saúde visual” dos animais, diz a pasta.

Porém, o Ministério Público e médicos veterinários pensam de outra forma. Para eles, a atividade está colocando a saúde dos trabalhadores em risco, além de criar um possível problema sanitário que não existia no país.
“A exportação criou um risco sanitário, inclusive para o agronegócio. Esse animais são recolhidos em vários lugares, e depois transportados pelo Nordeste sem que a gente conheça a procedência. Os empresários que negociam os jumentos não têm ideia do risco que estão criando. É uma bomba-relógio”, explica Chiara Oliveira, professora de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e uma das pesquisadoras que acolheram em uma fazenda todos os jegues apreendidos em Canudos — dos mais de 690 inicias, cerca de 150 sobreviveram.

Em nota técnica do ano passado, o Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia (CRMV-BA) afirmou que atualmente o mormo é uma “doença endêmica” no rebanho de equinos e jumentos no estado. E que trabalhadores que manipulam os animais, em especial os de frigoríficos, “correm sérios riscos de contaminação por via respiratória e mucosas (pelos olhos, por exemplo)”.

O promotor Julimar Barreto Ferreira, titular da Promotoria Regional Ambiental do Recôncavo Sul, abriu um inquérito para investigar o caso e outras denúncias de irregularidades. “Não podemos criar e manter um mercado que coloca a espécie e os trabalhadores em grande risco. É isso que está acontecendo hoje na Bahia”, diz, por telefone.

O CRMV-BA acredita que, sem uma cadeia produtiva, o ritmo dos abates e a demanda chinesa pelo ejiao podem praticamente dizimar a população de jumentos no Nordeste em poucos anos, diagnóstico compartilhado por entidades como o Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, a Frente Nacional de Defesa dos Jumentos e a The Donkey Sanctuary.

Em 2000, o país tinha por volta de 9 milhões de cabeças — em 2016, o número caiu para 2 milhões. Em 2000, a produção anual de eijiao era de 1,2 tonelada — já em 2016, foram 5 toneladas. Estima-se que o país precise de 5 milhões de peles de jumento por ano, mas, desde 2017, o estoque interno não é mais capaz de suprir a demanda.

No Brasil, um estudo da USP aponta que criar um jumento para o abate custaria em média R$ 4 mil — a gestação de um filhote leva 13 meses. Por outro lado, um estudo da ONG britânica estima que, de todos os animais recolhidos no meio ambiente, 20% morrem antes de chegar aos frigoríficos.
Nas últimas décadas, a espécie perdeu a importância na agricultura sertaneja depois de ser trocada por motocicletas. Livres em estradas e na Caatinga, os jegues se reproduziram sem política pública voltada para o controle ou questões sanitárias. Vagando por rodovias, eles também se envolveram em graves acidentes de carro.

No início da década passada, o poder público tentou fomentar o consumo de carne de jumento, como ocorre em alguns países, mas o projeto não decolou por uma questão cultural: a população se recusa a comer sua carne.

Por meio da Adab, o governo da Bahia afirma que não é de responsabilidade da agência criar uma cadeia produtiva e que uma recente portaria dita que “fêmeas em terço final da gestação não serão consideradas aptas ao abate”, uma medida que, para agência, ajuda a renovação do rebanho.

Já o Ministério da Agricultura alega que é responsável pela fiscalização sanitária dos frigoríficos, mas que não está entre suas competências o “controle sobre o número de animais existentes ou criados, nem sobre riscos de extinção”.

Informou, ainda, que a fiscalização de órgãos ligados a pasta “garante que os animais chegam (ao abatedouro) com saúde e sem sinais de maus-tratos durante o transporte.”

Ele não acredita que o jumento possa ser dizimado. “Essa avaliação é um equívoco. A última estimativa do IBGE fala em quase 1 milhão de animais, boa parte solta na Caatinga e nas rodovias, colocando em risco a vida das pessoas, sem assistência zootécnica e veterinária que dê um bem-estar aos animais. A gente acredita que isso não vai acontecer com uma produção com abate controlado, com inspeção e normas”, diz.

Em uma praça da cidade, o professor Joelson Alcântara, ativista da causa animal em Amargosa, pensa diferente. Para ele, além da importância histórica para o sertanejo, o jumento também é um símbolo religioso para o cristão.

“Na Bíblia, Jesus monta um jumento quando ele entra em Jerusalém. É um animal tão importante que participou da vida de Jesus Cristo, e está sendo exterminado por uma questão financeira. Não tem explicação”, diz.

Na música Apologia ao Jumento (1976), Luiz Gonzaga também cita Jesus quando canta que o jegue “é sagrado”: “E na fuga para o Egito/ Quando o julgo anunciou/ O jeguin foi o transporte que levou nosso Senhor”.

E continua: “O jumento é nosso irmão, quer queira quer não/ O jumento sempre foi o maior desenvolvimentista do sertão/ Ajudou o homem na lida diária/ ajudou o homem/ ajudou o Brasil a se desenvolver”.

Fonte: Agora RN

Covid matou uma criança de 5 a 11 anos a cada dois dias no Brasil


Enquanto o governo federal debate a vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos contra a Covid-19, essa faixa etária segue em risco. No Brasil, 301 crianças morreram em decorrência da doença desde a chegada do coronavírus até o dia 6 de dezembro, o que, em 21 meses de pandemia, significa 14,3 mortes por mês, ou uma a cada dois dias.

A consulta pública sobre a vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos contra a Covid foi oficializada nesta quarta-feira e preocupa especialistas em saúde.

Dados da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 mostram que 2.978 diagnósticos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid ocorreram em crianças de 5 a 11 anos, com 156 mortes, em 2020. E em 2021, já foram registrados 3.185 casos nessa faixa etária, com 145 mortes, totalizando 6.163 casos e 301 mortes desde o início da pandemia.

Além dos casos de SRAG por Covid, até o último dia 27 de novembro, foram confirmados 1.412 casos da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica associada à Covid-19 em crianças e adolescentes de zero a 19 anos. Destas, 85 crianças morreram, segundo a Conitec.

Com base nesses dados, a câmara técnica emitiu comunicado no último sábado em que apoia de forma unânime a vacinação em crianças: “Tendo em vista o recente parecer favorável por parte da Anvisa em relação ao pedido de autorização para aplicação da vacina desenvolvida pela fabricante Pfizer na população pediátrica entre 5 e 11 anos de idade no Brasil, a CTAI COVID-19 manifestou-se unanimemente favorável à sua incorporação na campanha nacional de vacinação, em reunião ordinária realizada no dia 17 de dezembro de 2021”.

A infectologista Luana Araújo alerta ainda para, além da morte de crianças pela Covid-19, as consequências a longo prazo da doença “em indivíduos em formação”, com risco de sequelas em relação a memória, ao aprendizado e a problemas de saúde mental. Por isso, defende a rápida vacinação dessa faixa etária.

— A Covid matou mais do que toda as outras doenças imunopreviníveis combinadas. Não proteger as crianças é um crime de saúde pública. E não é uma questão de opinião, as evidências científicas existem. Esse desgaste e tentativa de tornar o processo moroso, burocratizado só serve a interesses diversos e não ao bem comum — afirma.

O pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria reforça o risco para a faixa etária:

— Hoje a Covid-19 é a doença prevenível por vacinação que mais mata as crianças e adolescentes brasileiros. Se as pessoas não hesitam em se vacinar ou vacinar seus filhos contra sarampo, meningite, coqueluche, não há razão para ter dúvidas sobre a vacinação contra a Covid. As vacinas têm se mostrado de enorme segurança, com quase 10 milhões de doses aplicadas no mundo, e riscos menores até do que em adolescentes — afirma.

Fonte: Agora RN

GOVERNO DO RN LANÇA 4ª CONFERÊNCIA ESTADUAL DE JUVENTUDE


A Secretaria de Estado das Mulheres, da Juventude, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (Semjidh) lançou, nessa terça-feira (20), a 4ª Conferência Estadual de Juventude do Rio Grande do Norte. Com o tema “O Poder da Juventude na Transformação do RN”, a conferência estadual será precedida de etapas municipais e territoriais que devem ser realizadas entre janeiro e abril do próximo ano. O lançamento aconteceu em ato na Escola de Governo, no Centro Administrativo, e contou com a participação de gestores, representantes do Poder Público, entidades de juventude e movimentos sociais.

A atividade é organizada pela Subsecretaria de Juventude (Sejuv) em parceria com o Conselho Estadual de Juventude (Cejuv) e tem o objetivo de definir prioridades na construção de políticas públicas voltadas aos jovens potiguares. “Frente a um projeto nacional que desnacionaliza o Brasil e transforma em ruínas as conquistas democráticas, nosso governo estimula a participação social e que tem um olhar todo especial para a juventude. Aliás, somos um governo que permitiu a visibilidade a muitos setores invisíveis da sociedade”, avaliou o vice-governador Antenor Roberto.

A 4ª Conferência Estadual de Juventude deve ser realizada nos dias 29 e 30 de abril de 2022 e será precedida de etapas municipais e territoriais que devem se iniciar já a partir de janeiro. A ideia é promover o debate, incentivar a reflexão das diversas juventudes sobre suas realidades e construir uma agenda de políticas públicas que culmine na elaboração do Plano Estadual de Juventude. “Vivemos um momento decisivo para o nosso país, com tantos desafios, e os jovens têm um papel fundamental nesse processo”, destacou a secretária da Semjidh, Júlia Arruda.

“O maior desafio hoje para as políticas de juventude no RN é, de um lado, enfrentar o cenário de violência e crise de oportunidades em que vive a juventude e, de outro, apoiar os municípios para que priorizem as políticas públicas de juventude, incentivando a criação de órgãos gestores e conselhos municipais”, explicou o subsecretário de Juventude do RN, Gabriel Medeiros. “E isso tudo só é possível quando a gente realmente parte para uma prática de política pública que vá ao encontro do planejamento, com metas e objetivos”, completou a presidente do Conselho Estadual de Juventude, Lia Araújo.

Fonte: Governo do RN

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Governadora Fátima Bezerra reabre as cortinas do Teatro Alberto Maranhão depois de quase 7 anos fechadas


 A noite do sábado foi de emoção no Teatro Alberto Maranhão, em Natal.

Quase 7 anos fechado, a casa dos artistas do Rio Grande do Norte, que tem 117 anos, que estavam presentes na plateia, foi reaberta pela governadora Fátima Bezerra.

E as cortinas do belo teatro foram novamente abertas, depois da conclusão de uma reforma iniciada e paralisada, que custou R$ 12,9 milhões no total, sendo R$ 10,4 milhões em obras e equipamentos e R$ 2,5 milhões da implementação da caixa cênica, que havia ficado de fora da reforma física.

Com recursos do Banco Mundial, através do Governo Cidadão, a gestão Fátima deu prosseguimento às obras de reforma que haviam contemplado apenas 5% do projeto.

Fátima reabriu as cortinas do TAM na companhia do funcionário mais antigo em atuação da Casa.

FONTE: thaisagalvao.com.br

Imagem: Governadora Fátima Bezerra

Datafolha: para 43% dos evangélicos, Lula é melhor presidente que o Brasil já teve; 19% escolhem Bolsonaro


Pesquisa Datafolha aponta que 43% dos evangélicos acreditam que o ex-presidente Lula foi o melhor presidente do Brasil, contra apenas 19% que escolheram Jair Bolsonaro.

O recorte evangélico do levantamento desmonta a tese de pastores fundamentalistas, apoiadores de Bolsonaro, que afirmam que a maioria esmagadora dos seguidores da religião neopentecostal apoia o atual governo.

No patamar geral, 51% dos brasileiros de todas as religiões veem em Lula o auge do presidencialismo nacional. O segundo da lista tem 44 pontos de distância: Fernando Henrique Cardoso, com 7%, à frente de Getúlio Vargas, que recebeu 4%, empatado com Juscelino Kubitschek. Embolados com 1%, José Sarney, João Batista Figueiredo, Dilma Rousseff, Tancredo Neves (morto antes de assumir), Itamar Franco e Jânio Quadros.

Quando a pergunta se inverte - “Qual o pior presidente que já comandou o Brasil?” -, Bolsonaro lidera com 35% dos evangélicos escolhendo seu nome, e 25%, Lula. A média geral é de 48% e 18%, respectivamente. Também são mencionados Fernando Collor (8%), Dilma (7%), FHC (2%) e José Sarney (2%). A pesquisa foi feita entre 13 e 16 de dezembro.

Fonte: Brasil 247